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Um cenário de instabilidade à frente

Pandemia, vacinação, retomada, volta da inflação, movimentação política, juros altos… São muitos os elementos que formam o cenário político-econômico deste e do próximo ano. O que esperar? Quais as perspectivas? Algumas respostas foram dadas no painel “Cenários econômico e político”, durante a Expogestão. Participaram do debate: Cleverson Siewert, CEO do Ascensus Group, empresa que opera em diversos segmentos do mercado; Gilberto Heinzelmann, CEO da Zen S.A., fabricante de impulsores de partida para o mercado automobilístico; Denise de Pasqual, sócia fundadora e diretora comercial da Tendências Consultoria; e Rafael Cortez, professor de Ciência Política no IDP e sócio da Tendências.

Denise de Pasqual iniciou o Painel, fazendo um resumo da economia. “No cenário doméstico, temos maior controle do quadro pandêmico, com a vacinação. A retomada econômica ganha consistência, mas há riscos colocados para 2022, como o aumento do risco fiscal. E a instabilidade política deve ser mantida.”

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No cenário internacional, a expectativa é de retomada forte do crescimento global, em meio a estímulos vigorosos. A crise decorre de choque exógeno à economia, diferentemente de 2008-9. Há aumento da percepção de riscos inflacionários, elevando juros de mercado. Na China, após a recuperação, há sinais de desaceleração, com possível queda no PIB.

No Brasil, a retomada da economia será de forma heterogênea entre os setores. As vendas no varejo devem crescer 5,9% em relação a fevereiro de 2020; a produção industrial ficará 2,1% abaixo; o índice de serviços, 3,9% acima. A retomada deve perder fôlego em 2022, mas o exterior será mais desafiador.

No mercado de trabalho, ainda que a expectativa seja de retomada gradual, o aumento da busca por ocupação deve limitar o recuo do desemprego. A massa de renda total dos domicílios deve diminuir 3,1% em 2021, com menor auxílio emergencial.

A inflação deve fechar em 8,7%, muito acima da meta, com projeção de 4,2% para 2022. A taxa de juros Selic deve fechar o ano em 8,25%.

Taxa de câmbio: real segue desvalorizado, o que indica o peso de questões internas, como o risco fiscal e as turbulências políticas.

“O cenário requer maior cautela, com impactos na elevação da Selic e incertezas eleitorais. O risco fiscal permanece”, resume a analista.

Polarização ou terceira via?

Rafael Cortez fez uma análise do cenário político: “O Brasil vem de um processo de reconstrução social e econômica. O quadro eleitoral depende das escolhas dos líderes políticos: quantos e quem vai ser candidato? O desempenho do governo terá peso considerável ante um cenário econômico desafiador, com inflação. Se o governo conseguir apoio no Congresso para a aprovação do orçamento de 2022, a tendência é retomada de força da candidatura de Bolsonaro. Se o conjunto de políticas não der certo, a oposição confirma o cenário de hoje”.

O orçamento de 2022 começa com a PEC dos precatórios: “Enquanto não houver resposta para a PEC, será difícil desenhar o orçamento. Ainda há os programas de política social, e tudo deve ser definido em 2021, mas o governo não consegue apoio. Todos olham com certo receio. O que cada líder partidário pode fazer? Terceira via, quem serão os candidatos? Quantos serão? Não há chances de terceira via, se for no plural. Tudo parece igual a 2018. Mudar depende do número de candidatos e do orçamento de 2022”.

Cleverson Siewert fez uma provocação do ponto de vista político, destacando as reformas: “Fernando Henrique fez micro e macrorreformas, como as privatizações, as agências reguladoras etc. Lula fez algumas e passou um tempo sem reformar. Temer fez teto de gastos, lei das estatais, reforma trabalhista, pré-sal… O teto de gastos foi efetivo, tanto que a receita cresceu mais que a despesa. Como fica essa questão no congresso?”.

Para Rafael Cortez, 2022 é uma eleição particularmente relevante, pelo fôlego da agenda de reformas: “O efeito das reformas, em termos de crescimento, começa a se esgotar. Precisamos de patamares mais elevados de crescimento econômico. É um problema político. A instabilidade dos últimos anos dificulta. Há um risco de contrarreforma. O grande jogo das reformas é para o próximo mandato”.

Previsões, riscos e incertezas

Para o executivo Gilberto Heinzelmann, as perspectivas para 2022 passam por riscos e incertezas. “Temos acompanhado uma constante revisão do PIB, sempre para baixo. Há muitas particularidades locais, além da inflação global. Pergunto: há risco de recessão?”.

Denise de Pasqual responde: “Riscos existem. O câmbio mais volátil dificulta para o BC. Permanece o descontrole fiscal. Mas não vemos cenário de recessão. O PIB não será negativo, mas muito próximo de zero”.

Gilberto Heinzelmann acha que não há resposta única para a questão da retomada total. “Mesmo olhando um setor e tentando sumarizar. Por exemplo, o varejo: bens de consumo, alimentação, moda… A resposta é variável. No meu setor, indústria automobilística, a fase é difícil, toda a cadeia complica. A minha empresa, porém, teve bom resultado, pois está na reposição de peças. Durante o pior da crise, com poucos carros novos saindo, o mercado de reposição e de manutenção cresceu”.

E se não houver terceira via nas eleições?

Gilberto Heinzelmann volta ao passado: “Em 2001, quando Lula ganhou, houve receio, desvalorização cambial, perspectivas negativas. O que se viu foi o contrário: aquecimento, valorização do real etc. Então, não vejo riscos para 2022, pela ordem democrática já estabelecida”.

Cleverson concorda: “Paralisia e medo vêm do desconhecimento. As instituições têm grande maturidade. A terceira via pode trazer incerteza se vier rachada”.

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