• Liderança e Pessoas
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No ano que vem eu vou…

A cada final de ano, as pessoas param para pensar, avaliar o ano que passou e projetar metas para que o próximo seja melhor. Fazer uma especialização, voltar a estudar idiomas, viajar, praticar mais exercícios físicos, manter uma alimentação mais equilibrada…Essas metas estão entre as principais estabelecidas pelas pessoas que querem ter um ano diferente, com mais qualidade de vida e crescimento intelectual.

A partir desta reflexão, o blog da ExpoGestão conversou sobre o tema com psicanalista Marcos de Almeida, que apresenta sua visão sobre este ciclo e fala como podemos pensar melhor e sermos mais assertivos em nossas metas para 2022, confira:

Quais os fatores que levam as pessoas acreditar que o Ano Novo é a melhor época para definir mudanças?

Marcos de Almeida – Uma das questões que leva as pessoas a crer que o início do ano é a melhor época para programar as mudanças talvez seja o fato de intuirmos nosso próprio ciclo vital. Este ciclo vital de nascer – crescer – envelhecer – morrer – pulsa a vida em nós (Eros) e clama por um contínuo renascimento ao final/início de cada ciclo. Precisamos recomeçar. Este é um vaticínio de orientação vital.

O final do ano representa fortemente o final de um ciclo. Queiramos ou não, presenciar o 1º de janeiro é renovar as esperanças de que tudo poderá ser diferente e melhor afinal. É a mesma epifania diária do alvorecer… De apreciar o sol vir de novo à sua face, não importa o que aconteceu ontem. Sempre o dia se refaz, se rejuvenesce.

Que fatores as motivam a traçar metas para um novo ano?

Marcos de Almeida – Como recomeçar representa simbolicamente uma nova chance, as metas são estabelecidas pela experiência da falta do que não se alcançou. O impulso e motivação a um novo ciclo só é possível pelo desejo de alcançar o que lhe faltou no anterior. Esta experiência daquilo que não se obteve ou do que lhe foi privado, é o cerne do desejo. A meta é o plano do desejo. Deseja-se porque não se tem, traçam-se metas pela expectativa da satisfação de uma completude inalcançável, inatingível. A esperança é de um novo ciclo mais próspero. É preciso acreditar ser possível.

Quais as principais metas estabelecidas pelas pessoas?

Marcos de Almeida – São aquelas ligadas exatamente àquilo que pode lhe causar mais frustração se não realizada. A meta representa um desafio, exige do sujeito um esforço adicional para ser alcançada, transpassa a expectativa e retesa o ser que se desdobrará para atingi-la. As metas são essencialmente uma resposta ao próprio caráter do sujeito. Que busca em sua realização uma satisfação pessoal, que deveras ainda que alcançada (a meta) não tem o condão de satisfação plena.

O que se deve levar em conta na hora de traçar o planejamento?

Marcos de Almeida – Contraditoriamente, muitas vezes, a meta, uma vez estabelecida leva o sujeito – desafiado por si mesmo – a abandoná-la no meio do caminho. Esta espécie de autosabotagem faz sentido na medida em que, o medo de não realizá-la, não alcançá-la – e a satisfação plena nunca se alcançará mesmo que lembremos -, a expectativa desta frustração (ansiedade) o faz por decidir-se inconscientemente por sua procrastinação ou desbaratamento. Sob uma desculpa qualquer de ocasião, cria-se uma narrativa do impedimento de sua conclusão. Isto ainda é melhor do que a frustração de não atingi-la. E assim termina mais um ano com a falta em foco, finda-se mais um ciclo, retorna-se ao poço dos desejos.

O que fazer para executar as metas com eficiência, sem desistir no meio do caminho?

Marcos de Almeida – Talvez um caminho – se é que há um – um meio de tornar as metas mais eficientes e tangíveis, sem que necessitemos utilizar a criatividade das desculpas, seja o autoconhecimento. Afinal, o que realmente importa quando me decido por algo? O que me motiva interiormente a buscar um resultado que só posso alcançar por minha própria determinação? O autoconhecimento talvez seja a meta mor a ser perseguida, a mãe de todas as metas. Através dela, há a clarividência de onde, de que modo e com que energia outros objetivos parciais podem ser buscados. A chave deste cofre não está em coisas, modismos, tendências, conselhos e nem em textos reflexivos como este. Senão tão somente em nosso próprio e solitário ciclo de autoconhecimento. Feliz – de fato – Ano Novo, de novo.

Quem é Marcos de Almeida

Filósofo, Psicólogo Organizacional e Psicanalista Clínico, Marcos é especialista de Recursos Humanos e atua em áreas de Recrutamento, Seleção e Desenvolvimento de Pessoas na ArcelorMittal Vega. Presta atendimento psicanalítico individual presencial na Clínica Psiquê em São Francisco do Sul e/ou online/Brasil.