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Três impactos da guerra na Ucrânia para a gestão e os negócios

Quais os impactos que a guerra da Ucrânia traz para o mundo dos negócios? Como deve ficar a economia brasileira no curto e médio prazos?

Para responder a perguntas como estas, o blog Expogestão foi conversar com Denise Pasqual, sócia-fundadora da Tendências Consultoria, onde atua como Diretora Relações Institucionais e Analista Financeira. Denise é economista com graduação pela Universidade de São Paulo, tem pós-graduação em economia do setor financeiro pela Fipe-USP e especialização em Administração para Graduados pela FGV.

Na visão da economista, a invasão da Ucrânia pela Russia gera três principais tipos de impacto: financeiro, comercial e de confiança.

Impacto financeiro ainda não chegou ao Brasil

“Uma reação comum em uma guerra é um movimento de aversão ao risco dos agentes, movimentando seus investimentos para países desenvolvidos”, explica Denise. Isso deveria resultar em uma maior atratividade de ativos em países como  EUA, Alemanha e outros desenvolvidos e menor liquidez nos  emergentes. Neste tipo de cenário o dólar se valorizaria em relação às demais moedas.

“Isso não aconteceu até agora. O Brasil foi beneficiado dentro do grupo de emergentes. Por ser um exportador de commodities ganhou espaço num conflito em que preços de commodities se valorizam. O que se viu foi o capital vindo para cá num primeiro momento provocando uma apreciação do câmbio”, explica a economista, dizendo que é difícil imaginar a permanência deste cenário em um conflito mais longo.

Impacto comercial: ganho para commodities, perda de crescimento

Conforme Denise, no aspecto comercial, se por um lado existe uma  melhoria favorável na venda de commodities, por outro há o impacto da  redução do crescimento mundial, que afeta todos os negócios. “O saldo em termos de atividade econômica é um pouco negativo para o Brasil”, pontua.

Impacto de confiança leva ao adiamento de investimentos

O terceiro impacto é na confiança. “O conflito provoca o adiamento das decisões de consumo e principalmente de investimento”, diz Denise.  Ela ressalta que no caso do Brasil pode haver medidas de compensação por conta do conflito (preço dos combustíveis por exemplo) que aumentam o gasto público num momento de fragilidade da nossa situação fiscal e abalam ainda mais a confiança, reduzindo a atividade econômica.

Novo cenário econômico

Diante do cenário de guerra na Ucrânia e dos impactos financeiro, comercial e de confiança a Tendências reviu suas projeções para a  economia. ”Tínhamos um cenário de alguma instabilidade na taxa de câmbio por conta das eleições. Este quadro permanece, mas um pouco menos intenso. Alteramos a taxa de câmbio de R$ 5,70 para R$ 5,30”.

Segundo Denise, os índices de inflação foram revisados para cima, considerando a pressão altista nos preços das principais commodities, da energia, o aumento da demanda e a alta no custo de insumos de fertilizantes. “O IGPM que projetávamos 7,7% foi para 9,5% e o IPCA subiu  de 5,4% para 6%” afirmou. Quanto à taxa Selic, a previsão é de terminar o ano em 12,75 ou acima.

Os números da economia também não são animadores. A estimativa é de crescimento zero do Produto Interno Bruto para este ano e de crescimento do PIB de 1.3% em 2023.

“Além do adiamento de investimentos, temos percebido nas empresas um olhar acurado para a demanda e um controle ferrenho de custos”, conta Denise. Ela prevê que a desorganização nas cadeias produtivas, iniciada na pandemia, tende a se manter e diz que as organizações precisam cuidar  da gestão de sua cadeia de suprimentos, encontrando fornecedores alternativos ou montando áreas de inteligência para acompanhar esta questão de forma detalhada.

Alguns segmentos tem oportunidade de crescer

Conforme Denise, o cenário econômico atual beneficia setores ligados à exportação e negócios em segmentos como Mineração, Agronegócio, Óleo e Gás. Geograficamente, isto beneficia especialmente as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.  Setores mais ligados ao consumo têm bom desempenho quando localizados em regiões que estão em crescimento. O setor de serviços está ainda se recuperando da pandemia e deve ter um desempenho positivo em todo o país.