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Escolha seu futuro: Mad Max ou Jornada nas Estrelas

A Expogestão 2020 trouxe palestrantes de alto nível para discutir as principais tendências do mundo corporativo. Salim Ismail, um dos fundadores da Singularity University, apresentou uma reflexão instigante sobre dois futuros possíveis: Mad Max e Jornada nas Estrelas.

A pandemia mundial da Covid-19 forçou a humanidade a tomar uma decisão difícil. O mais comum é nos sentirmos rumo à distopia de Mad Max, com tantas pessoas sendo desfavorecidas e diante de uma queda geral de padrão social. Mas, na verdade, existe uma chance real de trilharmos uma alternativa utópica, na linha de Jornada nas Estrelas, em que diversidade e tolerância são valorizadas e inclusão e igualdade são a norma. A tecnologia pode converter o impossível em possível.

A humanidade precisa escolher seu caminho, destacou Salim Ismail. Apresentou um gráfico idealizado por Ray Kurzweil, que expõe a Lei de Moore. Ao analisar os a curva constante do desempenho em computação há 110 anos surge a pergunta: “por que a curva é tão previsível, mesmo com guerras, recessões, altos e baixos na indústria?”. Seria mais lógico um gráfico com mais altos e baixos e não uma progressão estável. Essas informações levaram Peter Diamandis a escrever o livro Abundância, mapeando toda a capacidade computacional que impulsiona o crescimento.

Com esse ponto de partida o palestrante explicou que estamos entrando em um mundo de crescimento exponencial. Mas aí entra o maior problema. A mente humana não está condicionada a esse raciocínio, pois a educação e o treinamento a que foi submetida ensina uma extrapolação linear. A pandemia do coronavírus, que espalha-se exponencialmente, também passa a mesma lição. Alguns países aprenderam a lidar com esse crescimento de forma rápida, mas, infelizmente, outros não estão conseguindo acompanhar essa velocidade.

Salim explicou que temos várias tecnologias crescendo exponencialmente. Inteligência artificial, robótica, nanotecnologia, biotecnologia, neurociência entre outras. Nunca a humanidade vivenciou um momento com tantas tecnologias evoluindo rapidamente e ao mesmo tempo. Drones estão dobrando sua capacidade a cada nove meses. A resolução de imagem do cérebro humano dobra a cada ano. Energia solar dobra a cada 22 meses.

Como resultado coletivo de todas essas tecnologias grandes dinâmicas estão em desenvolvimento. A primeira é uma digitalização acelerada em todo o mundo, que gera uma disruptura, uma transformação acelerada, exponencial. Exemplificou com a evolução da fotografia. Não faz muito tempo que se usava filme fotográfico, as câmeras de qualidade eram caras, era necessário revelar, imprimir… Com a mudança para o digital o curso marginal vai a zero, ampliam-se a abrangência, pois esse custo deixa de existir, são tiradas um bilhão de fotos a mais do que antes. E isso tudo transforma o modelo de negócio. Antes se vendiam câmeras caras, o custo de revelação era alto. Hoje o problema é que tem oito cópias, em dez equipamentos diferentes e, quando precisamos, não conseguimos encontrar. A música também seguiu por um caminho semelhante. Antes, eram menos de uma dezena de grandes estúdios vendendo fita cassete, CD, DVD… Com a digitalização a maioria dos estúdios desapareceram. Hoje o domínio do negócio está com iTunes, Spotify, quem vendem música por assinatura ou sob demanda.

Tecnologias avançadas sempre tiveram um custo alto. Apenas grandes laboratórios e governos podiam arcar com centros de pesquisa e desenvolvimento e lançar produtos e serviços regularmente. Pela primeira vez na história do mundo, tecnologias avançadas estão baratas. Assim, a inovação torna-se cada vez mais acessível. Citou o exemplo da energia solar, que está crescendo muito, praticamente dobrando de quantidade a cada 22 meses, desde os anos de 1970. Neste ritmo, o mundo poderá ter 100% de energia solar em 2030. Isso mudaria a geopolítica global. O Oriente Médio entraria em colapso. Canadá, EUA e outros países terão impactos negativos profundos em suas economias. Já países menos desenvolvidos seriam favorecidos, pois são os que possuem mais sol. No fundo significa que o mundo pode passar da escassez para abundância, o que impacta nos negócios em todo o mundo.

Salim ilustrou como esses avanços impactam na vida com o exemplo vivenciado por ele em uma viagem em um carro elétrico embarcado de tecnologia. Fez a viagem de Miami a Toronto em 2016 em 34 horas. O carro dirigiu sozinho por 35% do tempo. E 18 meses depois seguiu o caminho de volta, com o mesmo veículo; e o carro dirigiu sozinho por 80% do tempo.

Há uma mudança profunda na sociedade. No século XV a imprensa impressa mudou o mundo. O momento Gutenberg. Hoje temos cerca de 20 momentos Gutenberg atingindo a humanidade ao mesmo: a energia solar muda o mundo, assim como a impressora 3D, o blockchain, o Crispr…

Isso tudo afeta a sociedade e quebra as instituições que dominam o mundo. Os sistemas de saúde e jurídico, propriedade intelectual não funcionam neste novo mundo. Instituições que foram desenvolvidas há algumas centenas de anos estão entrando em um mundo diferente. Então é necessário modelos diferentes para geri-las. O sistema educacional, exemplificou Salim, foi criado para pegar uma criança e treiná-la até os 20 anos, preparando-a para o mercado de trabalho. Mas como será o trabalho daqui cinco anos? O que estamos ensinando a eles? Da mesma forma a democracia, o capitalismo, a religião, o casamento… Todas essas instituições estão passando por uma disruptura.

A humanidade precisa fazer uma escolha como uma espécie global, definindo a direção que quer seguir. “Estamos assustados com a forma que o mundo é hoje”, argumentou o palestrante. E esse medo faz com que as pessoas tenham uma reação contrária às mudanças. Ao ver um carro autônomo, exemplificou, a maioria já pensa que ele irá matar alguém, vai causar um grande acidente e a primeira reação é banir a tecnologia. Essa justaposição de pensamento antigo em um mundo novo deve ser transformada.

Em seguida Salim Ismail abordou as mudanças sob a perspectiva econômica. Disse que o metabolismo da economia está se acelerando. A grande questão é onde estará o dinheiro no futuro? Como lidar com o capital quando bens digitais se tornam gratuitos ou com custo muito baixo? Isso é um desafio enorme para a economia global.

Outro aspecto da aceleração das tecnologias é a democratização pura. Onde os domínios viram digital, o custo zera, formam-se comunidades open source e gera uma transformação radical do status quo. Novamente usa exemplo para ilustrar essa mudança. Uma comunidade de pescadores do Vietnam recebia um navio que entregava diesel uma vez por mês para abastecer os barcos de pesca. O navio parou de vir porque não era viável economicamente. Os pobres pescadores ficaram sem combustível. Então… Compraram um painel solar pela internet, procuraram instruções, conectaram à hélice, inventaram um barco movido à energia solar.

Hoje é possível alavancar novas tecnologias em todas as áreas. Financiamentos estão disponíveis, os custos para construir uma empresa ou modificar diminuíram consideravelmente. “Basicamente, veremos uma explosão de inovação como nunca antes. Por isso ficamos tão empolgados com Jornada nas Estrelas”, declarou. A barreira é a necessidade de transcender os velhos padrões. E é isso que faz a diferença para Jornada nas Estrelas ou Mad Max. É preciso entender que estamos vivendo uma transformação nunca antes vista, uma quebra de paradigmas e de instituições tradicionais e líderes que não estão preparados para essa mudança. Na geopolítica, Salim aponta que países grandes perderão força para países menores, mais ágeis. O enfoque sairá das nações-estado para as cidades-estado.

Finalizou mostrando um pouco do trabalho e da metodologia da OpenExO, empresa da qual é cofundador e chairman do ecossistema de transformação global, que atua junto a companhias diversos países. Também falou sobre a organização sem fins lucrativos que faz o mesmo trabalho no setor público, a Fast Track, que já foi utilizada pela prefeitura de Miami para transformar o transporte coletivo. Exemplificou com dois casos de sucesso da OpenExO, que mostram que é possível transformar aproveitando os recursos tecnológicos disponíveis.