A grande resignação
A pandemia da Covid e o crescimento exponencial da tecnologia vêm provocando mudanças e impactando o mundo empresarial, num processo de individualização que resultou no movimento conhecido como grande resignação. “Mais da metade da força de trabalho global resiste em retornar ao ambiente anterior de trabalho”, resume o sociólogo Carlos Aldan, palestrante no primeiro dia da Expogestão 2022.
CEO do Grupo Kronberg, Aldan diz, na palestra intitulada “O Eu versus o Nós”, que “a tensão provocada pela vontade manifestada pelos profissionais e as necessidades organizacionais – de valores, de cultura, de pertencimento, de inovação – só pode ser resolvida sem perda de talentos a partir do desenvolvimento das lideranças”.
A tecnologia cresce…
O crescimento exponencial da tecnologia é o primeiro fator que vem produzindo transformações. Para ilustrar, Carlos Aldan cita a “curva de Fuller”descrita por Buckminster Fuller no livro “Caminho Crítico”). A partir do ano 1 dC, foram necessários 1.500 anos para o conhecimento humano dobrar pela primeira vez. Em 1750 o conhecimento dobrou de novo, levando, portanto, 250 anos para isso. Em 1900 o conhecimento humano já dobrava a cada 100 anos e no final da 2 a Guerra Mundial passou a dobrar a cada 25 anos. Hoje, estima-se que o conhecimento humano dobre a cada ano, com previsão de que, nos próximos anos, esse ritmo seja de dobrar a cada 12 horas.
…e o trabalho muda
“Na pandemia – acentua Aldan – o crescimento exponencial da tecnologia somou-se a mudanças importantes no trabalho, produzindo mais humanização e sentido de protagonismo. É o ‘eu acima de nós’, resultando em impactos como grande demissão e o ‘quiet quitting’, ou demissão silenciosa.” Há, para o sociólogo, um “descasamento entre demanda e oferta de talentos. Os empregadores continuam utilizando métodos tradicionais para atrair e reter talentos”.
Citando pesquisas dos Estados Unidos, Carlos Aldan pontuou: 2,1 milhões de pessoas pediram demissão de janeiro a maio de 2022 (35% a mais do que no mesmo período do ano passado); 48% das demissões de trabalhadores de nível superior foram voluntárias; 65% foram de profissionais de tecnologia; 11,3 milhões de vagas não foram preenchidas.
E mais: 40% das pessoas planejam deixar o emprego nos próximos meses. As razões são várias: falta de treinamento/desenvolvimento, chefe e trabalho não inspiradores, expectativas insustentáveis, falta de apoio para questões de saúde e bem-estar…
Como vencer esses desafios? Segundo Carlos Aldan, as lideranças precisam levar as queixas em conta e ficar atentas aos sinais de insatisfação. “Os principais marcadores de sucesso, para as lideranças, são o autocuidado, o apoio emocional, a tolerância a incertezas e ambiguidades. Para aumentar o engajamento, é essencial observar a complexidade geracional, a diversidade, a inclusão, o pertencimento e o propósito individual.”