A importância de aprender, desaprender e reaprender
A frase é do pensador norte-americano Alvin Toffler (1928-2016): “O analfabeto do século 21 não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”. O final do enunciado foi escolhido como tema para a palestra de encerramento da Expogestão 2019. O palestrante, Zeca de Mello, afinal, viveu tudo isso.
Aprendeu a ser padre, ordenando-se aos 25 anos; desaprendeu quando decidiu largar a batina, 12 anos depois; e reaprendeu ao escolher os ofícios de palestrante e professor. “As transformações começam em nós, já que sabemos o que mudar nos outros”, afirmou o carioca, filósofo, doutor em Teologia e hoje professor na Fundação Dom Cabral.
Aos 18 anos de idade, Zeca de Mello foi para o seminário, convicto de que o sacerdócio era sua vocação. Formado em Filosofia, doutorou-se em Teologia na Itália e foi ordenado, chegando a ocupar a coordenação do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Aos 25 anos, tornou-se o mais jovem diocesano ordenado no Brasil.
Zeca iniciou sua palestra com uma pergunta retórica: “Numa sociedade com mudanças a uma velocidade estonteante, o que deve permanecer?” “Nossa geração – disse ele – formou-se no modelo ‘qual a resposta certa?’. Boa memória era tudo. Mas isso mudou, e hoje as respostas são pesquisadas on line, oferecendo diversas vias.”
E o que é preciso para aprender mais e mais rapidamente? “Precisamos de fome, de apetite. Temos as ferramentas e os insumos, precisamos do desejo”, afirmou, ilustrando o pensamento com um trecho da poeta Adélia Prado: “Nem a faca nem o queijo; eu quero a fome”.
“Os melhores professores – prosseguiu Zeca – foram os que me despertaram o apetite, que provocaram o desejo de aprender.” Outra grande professora, para ele, é a crise. E foi justamente em um momento de crise que ele, em 2006, decidiu abandonar o sacerdócio e reaprender, transformando sua vida. Fez MBA e enveredou pelo ambiente corporativo, dando aulas na Fundação Dom Cabral.
Cooperação e confiança são duas qualidades salientadas pelo palestrante: “A confiança é o principal valor nos novos empreendimentos. A cooperação é vital na inovação. Esses valores não podem simplesmente ser exigidos, mas devem ser cultivados”.
Zeca de Mello é um entusiasta das Humanidades, que permitem ao ser humano, entre outras coisas, ter capacidade crítica e autocrítica; ter a compreensão empática do outro; exercitar a imaginação criativa. “O conceito de Humanidades não se resume às Ciências Humanas ou à condição do ser humano, mas a uma ampla compreensão da existência colaborativa”, disse.
Nesse ponto, Zeca deu uma das respostas à sua questão retórica inicial: “Devemos manter viva nossa capacidade crítica e nossa autonomia. Ter certeza não é o mesmo que ter confiança. Se você tem certeza do caminho que segue, não precisa ter confiança. A autoconfiança é importante, mas se não incluir a confiança no outro, torna-se perigosa”.
Zeca de Mello citou as que considera as três melhores pedagogas da vida: as crises, as crianças e a empatia. E arrematou com a importância da inteligência emocional: “A pessoa emocionalmente inteligente é capaz de expressar ternura e afeto; de lidar com a inveja, o rancor e a angústia; de criar empatia e despertar confiança”. E deixou um exercício: “Nos próximos dias, visitem uma pessoa e conversem com ela, pessoalmente. Só usem recursos tecnológicos se a distância for muito grande“.