Atenção primária à saúde como um caminho economicamente sustentável
Dos 209 milhões de brasileiros, 22% têm plano de saúde. Neste grupo, em média, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 70% só conta com assistência médica particular porque a empresa em que trabalha subsidia o plano. Mas, em 2019, a despesa assistencial nessa fatia da população bateu a casa dos R$ 174 milhões, conforme a Agência Nacional de Saúde. A conta fica cada vez mais pesada para as empresas. Transformar essa realidade exige uma mudança na maneira como o colaborador usa o benefício. “A ideia é fazer gestão da saúde da população, com análises preditivas e apresentação de soluções personalizadas para atender às necessidades das operadoras e empresas, com algoritmos de inteligência artificial, que permitem melhores decisões, melhor atendimento e menores custos”, garante o CEO da AsQ – Gestão de Saúde Suplementar, André Machado Júnior.
De acordo com Machado Júnior, que falou sobre o tema na Expogestão Digital, por conta desses gastos pesados o número de empresas que oferecem o benefício da saúde aos colaboradores está reduzindo. Em 2015, eram 78%. Em 2019, esse percentual caiu para 64%. “Em 2012, a assistência médica representava 10,38% da folha de pagamento. No ano passado, esse percentual era de 13,5%. Ou seja, eu tenho menos empresas oferecendo plano de saúde, mas a representatividade deste plano na folha de pagamento da empresa é cada vez maior”, explicou.
Um dos principais fatores para este alto gasto com assistência médica é o livre acesso. No SUS, por exemplo, não é assim. o usuário entra no sistema, de modo geral, pelo atendimento de atenção primária. No entanto, na rede privada, a partir do momento em que a pessoa adquire um plano de saúde, ela utiliza os serviços à medida que achar necessário. Esse sistema, garante Machado Júnior, acaba gerando um desperdício na saúde, e cita como exemplo as consultas a especialistas sem necessidade, a repetição de exames e uso de recursos de pronto-socorro em situações que não são de urgência.
“A grande questão é: como levar mais saúde a um custo adequado, integrando saúde ocupacional, educação em saúde e assistência? Quem alcança isso tem como resultado colaboradores felizes, saudáveis e produtivos na integralidade”, ressaltou.
Pesquisas realizadas em países como Inglaterra, Holanda, Suíça mostram que quando se aplica atenção primária o custo com a saúde é reduzido e melhora a qualidade do cuidado como um todo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que o atendimento primário permite solucionar 80% das necessidades de atendimento médico da maioria da população, além de reduzir o número de internações em 17%.
Machado Júnior apresentou o case de sucesso da ASQ, que promoveu, em um ano, uma redução de 34% no custo em saúde, além de redução de absenteísmo, melhora da produtividade e a satisfação alta dos colaboradores.
O primeiro passo foi fazer todo um trabalho de diagnóstico e perfil dos colaboradores, porque, conhecendo o público, foi possível desenhar projetos para a empresa, que atendessem as necessidades dos colaboradores. Por exemplo, saber se há muitos fumantes e, então, fazer um programa de incentivo para quem quer deixar o tabaco. O segundo ponto foi levantar quais soluções de saúde a empresa já possuía e, a partir daí, planejar com ações possíveis focadas no perfil da empresa.
“Olhando tudo isso, a gente trabalhou na reformulação do modelo. Hoje, temos foco em um modelo novo de atenção à saúde, que está centrado na atenção primária. Temos clínica de atenção primária coordenando o processo. Não há mais pontas soltas. Não é uma triagem. É de fato um modelo diferente, que trabalha focado na saúde da pessoa, coordenando todo o cuidado. Depois deste atendimento, feito por equipe multidisciplinar, o paciente é encaminhado para o serviço especializado, se houver necessidade. Mas já saí de lá com exame agendado e autorizado, por exemplo”, contou.
Para Machado Júnior, trazer a atenção primária como uma coordenadora do cuidado, em um modelo onde eu tenho uma equipe olhando para o colaborador, faz toda a diferença na qualidade de vida e, também, nos resultados.