
O tradicional pico de vendas do Natal já não tem o mesmo peso no calendário comercial brasileiro. Desde a chegada da Black Friday, em 2010, o mês de novembro vem ganhando força, enquanto dezembro perde gradualmente sua vantagem sobre a média anual.
Um levantamento do Instituto de Economia de um cartão de crédito aponta que, nos últimos 15 anos, a “sexta-feira de descontos” transformou o comportamento de consumo e alterou a dinâmica sazonal do varejo no país.
O estudo analisou dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE e do Mastercard SpendingPulse, utilizando um índice de sazonalidade para medir o desempenho mensal do varejo em relação à média anual. Em 2009, antes da chegada da Black Friday, novembro registrava desempenho ligeiramente abaixo da média, com índice de 0,98. Em 2024, o indicador saltou para 1,07, evidenciando um avanço constante, interrompido apenas entre 2020 e 2021, durante a pandemia. Já dezembro, historicamente dominante, caiu de 1,32 para 1,19 no mesmo período.
De acordo com os economistas Gustavo Arruda e Raphael Rodrigues, autores da pesquisa, a Black Friday “se tornou uma força poderosa no cenário varejista brasileiro, reduzindo a importância relativa das vendas de Natal e remodelando o comportamento do consumidor”. O estudo indica que, embora dezembro ainda concentre parte relevante das vendas, o impulso de novembro vem redistribuindo o consumo e encurtando o período de maior aquecimento do comércio.
Outro fenômeno destacado é a diluição da Black Friday no tempo. O evento deixou de se concentrar em um único dia e passou a se estender por semanas. No setor de eletrônicos, por exemplo, o pico de compras nos últimos três anos foi menor do que em edições anteriores, mas o volume total de vendas entre 20 dias antes e 5 dias depois da data cresceu. Entre 2021 e 2024, o segmento saltou de R$ 9 bilhões para R$ 10,2 bilhões, evidenciando que o consumidor distribui suas compras ao longo de um período mais longo.
Nos supermercados, o comportamento é um pouco diferente: o crescimento é mais estável e contínuo, sem grandes picos. De 2018 a 2024, o setor registrou alta de 82% nas vendas, mostrando que o consumo básico tem se mantido forte ao longo do ano, independentemente da sazonalidade.
A conclusão é clara: a Black Friday consolidou-se como um dos principais motores do varejo nacional, redesenhando o mapa das datas mais lucrativas do comércio brasileiro.
FONTE: INFOMONEY