Conflitos existem para ser solucionados
Convivência sem conflitos é o que todo mundo almeja. Especialmente no ambiente de trabalho e em família. E quando a família é o ambiente de trabalho? “Ainda que cada pessoa pense e aja de forma diferente, numa organização societária o foco de todos precisa ser o mesmo, pelo bem da empresa”, ensina o empresário e consultor Herbert Steinberg, que abordou o tema “Resolução de conflitos familiares e societários” em sua palestra na Expogestão 2021.
Fundador da Mesa – Corporate Governance, com experiência de duas décadas atuando como executivo para grandes corporações, Steinberg é professor convidado nas principais escolas de negócio do país. É articulista e autor de oito livros, entre os quais “A Dimensão Humana da Governança Corporativa”, “Governança Corporativa – Conselhos que Perpetuam Empresas” e “A Família Empresária”.
“Governança corporativa – explica o palestrante – implica em foco no coletivo: o que é melhor para a sociedade, o que é melhor para o negócio e o que é melhor para a família. Temos que ter um foco no coletivo, sempre. Existem diversos subsistemas, mas eles se integram de forma única.”
Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre stakeholders: sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas, na determinação da direção estratégica, da performance das organizações e do seu controle.
Esses pilares da governança são sustentados por princípio fundamentais: transparência, prestação de contas, responsabilidade corporativa e equidade. “Parece simples – diz Steinberg –, mas está implicitamente ligado a comportamento, maneira de ser, a maneira de criar confiança a estranhos, no caso de sócios ou conselheiros de fora. Eles precisam entender o que a empresa está fazendo, por que está fazendo.”
Senso de propósito
Empresa passa uma noção de senso de propósito, de responsabilidade com aquilo que se faz, com a certeza de que ela continuará existindo. Steinberg esclarece: “A empresa trata a todos não de forma necessariamente igual, mas trata o dinheiro de todos com equidade. Um real de um acionista majoritário tem o mesmo valor de um real de um acionista minoritário”.
“Precisamos – prossegue – ter o entendimento subjetivo e árduo de entender isso dessa forma. Mas as condições para o funcionamento dessa estrutura de relações são baseadas na clareza sobre o uso do poder, na separação de papéis e na definição das responsabilidades. Numa empresa familiar, às vezes, esses papéis se confundem. Temos tendência de querer separar: eu pessoalmente isso, eu pessoalmente aquilo. Por mais que tenhamos isso bem definido na cabeça, as misturas acabam criando ruído nas relações com os demais.”
A construção de um ambiente passa por etapas: compreensão e consenso (engajar ao comprometimento), comprometimento e formalização dos combinados (acordo de sócio: instrumento disciplinador da partilha de poder de controle entre sócios, dispostos a influenciar a condução da empresa; forma os blocos de controle, que exercem o poder e deliberam os temas mais relevantes; já o documento com força de lei, o estatuto ou contrato social, define a existência da empresa). “As pessoas são diferentes e essas diferenças influenciam na execução das atividades.”
Há desafios importantes a superar na implantação da governança corporativa: clareza a respeito das expectativas dos acionistas; alinhamento de visões, de objetivos e da comunicação, entre acionistas, conselheiros e diretoria; efetividade da Assembleia/reunião de sócios e, quando houver, do Conselho de Família; separação de papéis.
Por fim, os pontos críticos da sucessão do fundador: a empresa é a cara do dono (risco: perda de identidade). Estratégia na cabeça do dono (risco: sensação de perda de rumo). Decisões centralizadas (risco: lentidão nas decisões). Indefinição do sucessor (risco: disputa de poder). Liderança na família (risco: conflitos familiares).
Os caminhos da evolução, no entender de Steinberg: “Profissionalizar não significa demitir parentes. Cumpre separar demandas pessoais das empresariais, tanto no âmbito financeiro, quanto no operacional. A evolução da empresa depende da evolução de seus profissionais. Familiares na empresa devem ser tratados como profissionais, não como parentes. Confiança é básica, competência é diferencial. Para as novas gerações, trabalhar na empresa da família deve ser opção”.
Na resolução de conflitos, há vários fóruns: conselho de família, Conselho de Administração, mediação, câmara de arbitragem e, em último caso, Poder Judiciário. “Quanto mais amadurecimento e profissionalismo, mais fácil de resolver internamente.”
As palestras da ExpoGestão 2021 acontecem de forma online. O evento acorre até o dia 21 de outubro, por meio do site. A organização é da Ópera Eventos Corporativos.