Do olho do furacão para o tsunami
O mundo está passando por uma transformação, que é a transição da era industrial para a era digital. “Estamos no olho do furacão dessa transformação, e a pandemia do coronavírus está acelerando a transição. Logo estaremos num tsunami”, compara o professor Neri dos Santos, um dos palestrantes do primeiro dia da Expogestão 2020 Digital. “Se antes as organizações levavam de dois a três anos para concluir um processo de digitalização, agora esse prazo vai cair para duas a três semanas”, prevê o palestrante.
Neri dos Santos é fundador e primeiro diretor-presidente da Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina), foi secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e presidente da Associação Brasileira de Engenharia de Produção. É professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC; CEO do Instituto Stela; pesquisador e especialista em Gestão do Conhecimento, Transformação Digital e Inovação Contínua; e membro dos Conselhos Editoriais do American Journal of Industrial Engineering e do International Journal of Knowledge Engineering and Management. Sua palestra na Expogestão abordou a Plataforma Digital – modelo de negócios para a inovação contínua.
“Transformação digital – alerta o professor – não é só tecnológica. Ela abrange as dimensões social e organizacional, exigindo o engajamento de toda a cadeia, de funcionários, fornecedores, clientes… E todos, absolutamente todos os setores produtivos e de serviços serão atingidos de alguma forma.”
Modelo colaborativo
Até pouco tempo atrás, a produção e a oferta de serviços eram lineares, seguindo o modelo fábrica implantado pela Revolução Industrial. “Agora – compara Neri dos Santos – o modelo é plataforma digital, tudo é feito em rede, de maneira colaborativa. A plataforma faz a conexão entre quem produz e quem consome, reduzindo a distância entre estes extremos.”
Quanto mais usuários tiver uma plataforma, mais valor ela terá. O palestrante utilizou um exemplo de um sistema de telefones para mostrar como as plataformas aproveitam os efeitos indiretos de rede; quanto mais telefones tiver a rede, maior o número de conexões, mais usuários interligados e maior valor do serviço.
O caminho para implementar uma plataforma digital tem quatro passos: conectar (saber o que o usuário quer), criar, compensar (monetizar) e consumir. Se antes esse caminho levava muito tempo e demandava recursos, a partir de agora tudo é mais rápido e com custo reduzido.
“Vamos ter geração de conhecimento exponencial na terceira década deste século, graças ao rápido avanço na transformação digital”, prevê Neri dos Santos, reforçando que a pandemia acelerou o processo. “A resiliência, característica dos materiais físicos, vai ser organizacional, exigindo das empresas e das pessoas mais flexibilidade, resistência e tenacidade”, conclui o palestrante, finalizando com uma constatação baseada em números: os negócios baseados em plataformas superam todos os outros modelos de negócios em taxas de crescimento.