Exportação catarinense: indústria tem aumentado a sua participação com produtos de valor agregado
Os últimos dados referentes à exportação de Santa Catarina são animadores.
Conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Santa Catarina possui 9,1% das empresas brasileiras que vendem produtos para o exterior. O estado bateu o recorde na exportação de carnes em 2023, considerando todas as espécies produzidas (frangos, suínos, perus, patos e marrecos, bovinos, entre outras). No comparativo com o acumulado do ano anterior, a alta em 2023 foi de 8,6% na quantidade exportada e de 5,3% na receita.
O estado foi responsável por 21% do total de carnes exportadas pelo Brasil em 2023, percentual superior ao registrado no ano anterior, quando a participação foi de 20,4%, de acordo com números do Ministério da Economia e sistematizados pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa).
Em janeiro desse ano as exportações de Santa Catarina chegaram a US$ 851 milhões, de acordo com os dados do Observatório da Federação das Indústrias de SC (FIESC). Ainda assim a Balança Comercial de Santa Catarina historicamente possui caráter deficitário pelo fato de a Indústria local possuir elevada importação de insumos básicos utilizados na transformação.
Para ampliar esses dados, conversamos com Maria Teresa Bustamante, a Maitê, presidente da Câmara de Comércio Exterior da (FIESC).
A Balança Comercial de SC continuará deficitária?
Maitê Bustamante – Permanecerá por duas razões:
(1) importação intensa de insumos, matéria-prima e componentes para transformação por indústrias catarinenses;
(2) importação em trânsito pelos portos catarinenses, mas com destino a outros estados.
Quais as principais ações /programas da FIESC para ampliar a exportação?
Maitê Bustamante – Uma das bandeiras da atual gestão da FIESC é a internacionalização. Estamos preparando as indústrias catarinenses para atuar de maneira sólida e estratégica no exterior. Dados do MDIC, apresentados pela secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, em evento realizado na FIESC, mostram que, de 2018 a 2022, cerca de 800 pequenas e médias empresas ingressaram no comércio exterior, o que mostra a contribuição da FIESC nesse resultado.
Desenvolvemos, desde 2018, um programa internacional de competitividade que conta com avaliação de maturidade empresarial, plano de ação customizado e, no momento, estamos na sétima fase desta ação, que prevê serviços como Business Advisory in Company, estudos de inteligência comercial, rodadas de negócios internacionais (presenciais e on-line), participação em missões e feiras — em alguns casos, setoriais ou temáticas, missões de prospecção e, também, institucionais. Também temos parcerias com organismos internacionais públicos e privados para amparar todas as iniciativas de negócios internacionais.
Esse esforço resultou na criação de uma coordenação do Ecossistema de Internacionalização de Santa Catarina, sob a responsabilidade da FIESC. Esse movimento reúne entes públicos e privados, como: SEBRAE, COFEM, Governo Estadual, entre outros, que unem esforços em torno do tema. A proposta é manter autonomia e independência, mas cooperando estreitamente entre si, visando maximizar os resultados.
Temos um trabalho intenso, diário, de motivar os dirigentes industriais para investir no aumento da competitividade interna das empresas. Inclusive, temos desenvolvido com muito êxito o serviço de Business Advisory in Company em que trabalhamos em conjunto, analisando as variáveis do ambiente interno das empresas, visando identificar os pontos a serem melhorados, bem como, a elaboração de planejamento estratégico, a discussão de inteligência comercial e segurança jurídica nas operações.
Em média, temos um ou dois eventos por mês voltados à internacionalização, seja, por meio de palestras, seminários, workshops ou fóruns, por exemplo. Também fomos agraciados com a eleição para ocupar um assento no Conselho Geral do International Chamber of Commerce (ICC/WCF), um dos organismos internacionais mais relevantes para as operações de comércio exterior.
Em março, pela primeira vez, vamos realizar um evento que reunirá as três federações de indústria da região Sul com suas respectivas câmaras de comércio bilaterais para apresentá-las como um meio de promoção de comércio internacional. Também teremos evento com a Câmara Brasil – Flórida, entre outros.
Em 2023 os produtos mais vendidos no mercado externo foram carne de frango, carne suína e soja. Esses volumes poderiam ser ampliados?
Maitê Bustamante – A perspectiva é de aumentar significativamente o volume de exportação porque há um reconhecimento nos mercados da qualidade do produto alimentício catarinense, que vem, cada vez mais, atendendo o cumprimento de normas de segurança alimentar, seja, na produção, na embalagem ou na entrega.
Além disso, países como o Egito, por exemplo, vêm sinalizando sua abertura para importação de carnes.
Quais outros produtos SC poderia exportar e fortalecer a marca SC?
Maitê Bustamante – A indústria catarinense tem aumentado significativamente a sua participação com produtos de valor agregado, em mercados altamente sofisticados e exigentes, como o dos Estados Unidos. Estamos atendendo com produtos de última geração, com alta integração de tecnologia e inteligência artificial, desenvolvimento técnico e qualidade associada também à entrega final, com montagem e assistência técnica, oferecendo, inclusive, ganhos de logística, porque algumas indústrias são habilitadas no regime aduaneiro Operador Econômico Autorizado. E isso facilita o ingresso aduaneiro no país do importador, entre muitos outros ganhos.
Atualmente, exportamos produtos como: móveis com design premiado em Milão; transformadores, motores e geradores elétricos, garras, rotatores e outros maquinários para movimentação de cargas e outros serviços; flavors, food service and animal nutrition; marcos e portas de madeira, entre outros muitos produtos.
Qual a expectativa para 2024?
Maitê Bustamante – Os exportadores vêm demonstrando interesse e dinamismo em manter esforços para abertura de novos mercados, como é o caso dos Estados Unidos. Em evento realizado no dia 2 de fevereiro, em parceria com o Governo Americano, por meio do Programa Select USA 2024, recebemos 400 empresários catarinenses que realizaram contatos com representantes de mais de dez estados americanos. Então, as perspectivas de novos negócios são bastante positivas. Temos iniciativas em andamento para ampliar a exportação para mercados como o asiático (Indonésia e Tailândia), além de Canadá, Irlanda e muitos outros, sendo que, estamos oferecendo aos empresários um novo formato de participação em missões e feiras internacionais, inclusive realizadas no Brasil.
Dessa forma, apesar do desordenamento logístico internacional, por causa do impacto das guerras e outros conflitos, a exportação vem mantendo um comportamento de crescimento contínuo. Somos altamente otimistas que continuaremos angariando a inserção dos produtos catarinenses em
novos mercados compradores, mantendo uma curva ascendente.