
O renomado físico e cientista brasileiro Marcelo Gleiser fez um chamado contundente durante sua palestra no Rio Innovation Week, realizada em 14 de agosto, no Rio de Janeiro. Para ele, os recursos bilionários destinados à exploração espacial deveriam ser redirecionados para enfrentar os desafios urgentes aqui mesmo, no planeta.
“Tem bilionários dizendo que o futuro da humanidade está em outros mundos. O problema é que esse sonho é totalmente absurdo, impossível de ser realizado em milhares de anos. Nós evoluímos para viver aqui, não para migrar para outros planetas”, afirmou.
Curador da Conferência Ciência para Todos e referência internacional na popularização do conhecimento científico, Gleiser destacou que a ciência possui um “lado luz” e um “lado sombra”. Quando guiada pelo capital e pelo Estado, pode se afastar do propósito de servir à humanidade. “Se usássemos apenas um décimo do que é gasto na corrida espacial para resolver problemas de saneamento, água e saúde, estaríamos em outro patamar de qualidade de vida”, provocou ele.
A conferência foi marcada por reflexões profundas sobre como preservar a essência humana em meio ao avanço acelerado da tecnologia. Gleiser relembrou a trajetória da civilização e questionou o futuro ético da ciência. Segundo ele, pela primeira vez na história, as máquinas não apenas nos servem, como também nos transformam.
Marcelo Gleiser é um dos cientistas mais influentes da atualidade, professor titular no Dartmouth College, doutor pelo King’s College de Londres e vencedor do Prêmio Templeton, ele se destaca tanto pela produção acadêmica quanto pela comunicação científica.
Autor de 16 livros traduzidos para 18 línguas e vencedor de três prêmios Jabuti, Gleiser transita entre o rigor da pesquisa e a popularização do conhecimento, com artigos publicados do New York Times a revistas infantis.
Para Gleiser, a ciência vai além das equações e experimentos; é uma busca incessante por sentido. Ele defende a necessidade de um pensamento integrador, que valorize a incerteza e o desconhecido como motores da criatividade. Seu trabalho desafia a visão reducionista do mundo e propõe um olhar mais amplo sobre a interseção entre ciência, filosofia e espiritualidade, sem dogmas ou verdades absolutas.
Computação quântica e inteligência artificial
Após sua fala, Gleiser recebeu no palco o professor de computação quântica em Dartmouth College e reconhecido mundialmente pelo ativismo em prol da diversidade acadêmica, James Daniel Whitfield.
De forma acessível, Whitfield explicou como a computação quântica pode resolver problemas inalcançáveis por computadores clássicos, encurtando processos que levariam anos para apenas horas ou minutos. Mas fez questão de afastar um mito: a computação quântica não substituirá a inteligência artificial.
“O que precisamos é treinar sistemas para obter dados melhores e, assim, IAs melhores. A inteligência artificial aprende com os dados que fornecemos a ela. Já a computação quântica gera esses dados. Ou seja, as IAs serão treinadas por computadores quânticos e não substituídas”, pontuou.
FONTE: N4NEWS