
A economista, especialista em desenvolvimento e em ESG, Ana Carla Fonseca, durante sua apresentação na ExpoGestão 2025, incentivou os participantes a refletir sobre a necessidade de uma conexão mais profunda entre empresas e o território onde atuam.
Em sua fala, ela apresentou o conceito de “terroir corporativo”, inspirado no universo dos vinhos, para evidenciar que o ambiente ao redor de uma organização é tão determinante quanto os talentos que a compõem.
Ana Carla destacou que os desafios contemporâneos são múltiplos e complexos. Do baixo índice de alfabetismo funcional à urgência climática, passando pelas transformações geracionais no mercado de trabalho, o cenário exige respostas coletivas e sistêmicas. Citando dados alarmantes, lembrou que apenas 30% a 35% dos brasileiros conseguem interpretar textos complexos e que 70% da população economicamente ativa já sente os impactos do aumento da temperatura. “Não dá para tratar esses problemas de forma pontual; precisamos enxergar o todo”, alertou.
A palestrante chamou atenção ainda para a distância entre discurso e prática dentro das organizações. Embora 95% das companhias brasileiras reconheçam a importância da convivência intergeracional, menos de 25% desenvolvem ações efetivas nesse sentido. “É nesse abismo entre o que dizemos e o que fazemos que mora o grande desafio corporativo”, provocou. Para ela, metodologias como o ágil só têm valor quando incorporadas como filosofia de vida, e não apenas como cartilhas afixadas na parede.
Para ilustrar caminhos possíveis, Ana Carla apresentou exemplos de empresas que já colocam esse conceito em prática. A Microsoft, por exemplo, investe em habitação em Seattle, entendendo que qualidade de vida e mobilidade urbana influenciam diretamente a inovação e a retenção de talentos. A Natura fortalece Cajamar por meio de programas de coleta seletiva e reciclagem. Já o iFood destina hortaliças cultivadas em sua sede para milhares de famílias em situação de vulnerabilidade. Casos que demonstram como o mutualismo entre empresa e comunidade pode gerar prosperidade para ambos os lados.
Outro ponto enfatizado foi o papel da criatividade como motor da inovação. Da criação do “World of Volvo”, na Suécia, ao incentivo cultural promovido pela Nestlé no Panamá, os exemplos reforçam que fomentar diversidade cultural e valorizar o ócio criativo não é luxo, mas estratégia de negócios. “Empresas saudáveis só existem em comunidades saudáveis”, resumiu Ana Carla, lembrando que investir em ecossistemas não deve ser encarado como filantropia, mas como estratégia competitiva.
Encerrando sua fala, a economista reforçou que os grandes resultados corporativos nascem da convergência entre território, talentos e propósito. Seja apoiando artistas emergentes no Canadá ou empreendedores criativos no Vale do Paraíba, ela destacou que transformar o mundo começa pelo lugar em que se está inserido. “As empresas que se conectam à essência do território colhem frutos mais doces e sustentáveis. É disso que se trata o verdadeiro terroir corporativo”, concluiu, sob aplausos entusiasmados do público.