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“Não dá para desistir do Brasil”

A exortação é do economista Maílson da Nóbrega, ministro da Fazenda no governo José Sarney, hoje dedicado a consultorias, análises de mercado e palestras. Nóbrega abriu o segundo dia de palestras na ExpoGestão 2023, falando das perspectivas da economia brasileira – com otimismo.
A economia global, aponta o ex-ministro, vive um período caracterizado por menor eficiência e mais riscos, resultado da pandemia de Covid e da guerra na Ucrânia. “A menor eficiência – detalha – significa menor potencial de crescimento. Segundo o Banco Mundial, é o menor potencial em trinta anos, e a inflação nos países ricos é a mais alta em quarenta anos, influindo diretamente na elevação das taxas de juros.” E persiste o risco de recessão nos países ricos, “ainda que mais baixo”.


Esse cenário global provoca impactos diretos no Brasil, sendo o mais visível e imediato a diminuição na exportação de manufaturados. O cenário, por outro lado, gera oportunidades: “O Brasil pode fazer parte da cadeia mundial de suprimentos, tem competitividade com sua matriz energética, é protagonista no mercado de carbono e de energia limpa e tem grandes possibilidades de sucesso com o hidrogênio verde, a energia do futuro”.
Cenário difícil, boas perspectivas
Localmente, o Brasil enfrenta uma situação fiscal delicada, com um desequilíbrio que foi piorando a partir da promulgação da Constituição, em Há outros problemas: as despesas da União crescem mais do que o PIB; 90% do orçamento são usados para gastos primários (previdência, pessoal, educação, saúde e gastos sociais); a dívida pública deve chegar a 87% do PIB em três anos (ainda que o governo preveja 73%).
O novo arcabouço fiscal, segundo o economista, acabou ficando melhor do que se esperava, “mas dificilmente evitará o crescimento da dívida pública em relação ao PIB”.
O otimismo de Maílson da Nóbrega com relação ao Brasil é reforçado por alguns aspectos: “Há situações que o país nunca vai enfrentar, como confisco de poupança, comunismo e panoramas semelhantes a Argentina e Venezuela.
As projeções apontam para um crescimento de 1,9%, com inflação sob controle, pouco acima da meta”.
O Brasil, garante o economista, aprendeu a resistir às crises ao longo do tempo, graças a algumas qualidades, como uma democracia consolidada, Judiciário independente, capacidade de investigação autônoma da corrupção, imprensa livre e combativa, Banco Central independente, disciplina de mercado e voto universal (“O pobre e o analfabeto têm direito a voto”).
Entre as novas crenças da sociedade brasileira, Nóbrega destaca a intolerância à inflação e à corrupção: “Foi-se o tempo em que inflação alta era normal, assim como a corrupção, o ‘rouba, mas faz’. Hoje a sociedade não tolera essas falsas premissas e tem voz para combatê-las”.
O país também tem demonstrado uma resiliência da economia, com força no agronegócio e na exploração de recursos minerais; não há mais as vulnerabilidades do passado, o sistema bancário é sólido, as contas externas são positivas, o país conta com algumas das melhores universidades da
América Latina e com incontáveis exemplos de empresas de sucesso. “Analisando o atual cenário global, com os impactos sobre a economia nacional, os problemas e as perspectivas, posso afirmar: não dá para desistir do Brasil.”