Será que estamos aproveitando todo o potencial para crescer?
A ExpoGestão 2024 também foi palco da palestra “Brasil em perspectiva: desafios e oportunidades”, conduzida pelo economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo. O doutor em Economia pelo Massachsetts Institute of Technology (MIT) fez uma análise da economia do Brasil a partir do cenário interno e externo, apontando desafios, aportunidades e estratégias. Reforçou a importância de os líderes empresariais ter dados precisos, informações de fontes e análise de cenários na hora de tomar decisões.
Ao falar sobre o cenário interno mostrou dois momentos na economia nacional. O primeiro, extremamente positivo, foi a condução de diversas reformas nos últimos 10 anos. Citou como exemplos o Marco do Saneamento, as reformas Trabalhista e Previdenciária, do Ensino Médio, da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). A reforma Trabalhista diminuiu em 30% as demandas na Justiça do Trabalho e aumentou o número de trabalhadores com carteira assinada. A mudança na TJLP (atualmente TLP) provocou crescimento no mercado de capitais. A reforma da Previdência estancou o enorme rombo dos gastos do setor. Com isso, houve um crescimento positivo nos últimos 4 a 5 anos.
Entretanto, explicou o economista, o Brasil vive um problema de curto prazo que precisa ser corrigido urgentemente. O aumento do teto de gastos e a nova fórmula de correção do salário mínimo maior que a inflação passada gera um aumento dos custos do executivo federal, que acaba pressionando o Congresso para aprovar leis para aumentar a arrecadação. Assim a cascata de aumento de receitas com crescimento dos gastos, somada a um déficit público elevado e uma dívida pública alta, provoca uma queda brusca na confiança dos investidores. Além disso, o conflito do executivo com o congresso – gerado especialmente por causa do projeto de desoneração de setores da economia – e com a classe empresarial – quando o governo tentou limitar o uso do PIS e Cofins para abater outros impostos – gera um aumento das incertezas, afastando investidores e desvalorizando o Real. Camargo citou ainda os constantes ataques do presidente do Brasil ao Comitê de Política Monetária (Copom) e a divergência entre os membros indicados pelo atual e pelo governo anterior na penúltima reunião. Esses fatos aumentam ainda mais a desconfiança do mercado na economia nacional.
Então, continuou o palestrante, “o Brasil está perdendo uma excelente oportunidade de crescer acima de outros países”. Citou situações que poderiam ser aproveitadas, como a oportunidade de implantação de novas indústrias no país. “Com a pandemia, o mundo percebeu a necessidade de desconcentrar a produção, diminuindo a dependência da China, por exemplo”, explicou. O Brasil é um país com energia limpa, que não tem conflitos geopolíticos e com disponibilidade de insumos e matéria-prima. Então, o país só não consegue atrair mais investimentos por causa da insegurança política.
O palestrante também traçou um panorama internacional, destacando dois fatores que estão influenciando a economia mundial. As guerras da Rússia com a Ucrânia e no Oriente Médio envolvendo Israel criam um cenário de retração. Além disso, disse Camargo, a economia dos Estados Unidos vive um momento preocupante, com uma dívida alta e taxas de juros elevadas.
Para finalizar, defendeu que a economia brasileira tem boas perspectivas a longo prazo, mas que precisa resolver rápido os problemas internos para, assim, atrair novamente a confiança dos investidores e voltar a crescer.