• Gestão e Negócios
  • 6,50 min

O que esperar da economia mundial e brasileira em 2024?

As Perspectivas dos Economistas-Chefes de Janeiro de 2024 exploram as principais tendências no ambiente económico, incluindo as perspectivas de crescimento e inflação, e as implicações dos recentes desenvolvimentos geopolíticos, da política industrial e da IA. Esta série de relatórios baseia-se nas perspectivas individuais e coletivas de um grupo de economistas-chefes líderes através de consultas com a Comunidade de Economistas-Chefes do Fórum Econômico Mundial e de um Inquérito regular aos Economistas-Chefes.
Para repercutir alguns pontos do relatório, a ExpoGestão conversou com o jornalista Claudio Loetz que apontou sua visão sobre as expectativas dos economistas, com base em sua longa experiência analisando fatos econômicos do Brasil e do mundo.

A incerteza continua a ser o fator mais importante para a economia em 2024.
De acordo com o relatório do Fórum Económico Mundial de Janeiro de 2024, alguns economistas acreditam que a economia global permanece instável e poderá enfraquecer ainda mais durante o ano.
Qual a sua análise para economia para 2024 do Brasil e de SC? Acredita seguirá essa tendência mundial?
Claudio Loetz – As oscilações da economia global, com previsível crescimento menor para este ano, tem efeitos para a economia brasileira e catarinense numa dimensão pequena, comparando com outros países mais internacionalizados. O comércio exterior do Brasil (exportações mais importações) é inferior a 2% do total das transações feitas em todo o mundo. Claro que os exportadores locais que vendem mais para Estados Unidos e China poderão sentir alguma diminuição no ritmo dos negócios. A economia catarinense continuará em expansão, neste ano, num nível acima da média brasileira. A expectativa do governo estadual é que o PIB de SC evolua 6% neste ano. No ano passado, a alta foi de 4,5%. O PIB catarinense totalizou R$ 45,8 bilhões no ano passado. Segundo o que consta da Lei de Orçamento Anual, a previsão para este ano e chegar a R$ 48 bilhões.
Santa Catarina aparece com o sexto maior PIB entre todos os Estados brasileiros. Há expectativas de investimentos privados e públicos no valor de R$ 15 bilhões! Este número inclui projetos da iniciativa privada (R$ 7,8 bilhões), além de possíveis parcerias-público-privadas e busca, pelo governo, de financiamentos para obras de infraestrutura. Aliás, a infraestrutura – especialmente rodoviária – é o nosso principal problema para melhorarmos desempenho e competitividade. E veja-se que Santa Catarina surge, em rankings variados, como segundo estado mais competitivo do país.

Já existe uma divisão nos padrões de crescimento entre regiões. Espera-se que a atividade no Sul e no Leste Asiático permaneça forte. A exceção continua a ser a China, onde as previsões de crescimento passaram de forte e moderado para principalmente moderado em 2024.
Diante dessa perspectiva, quais os impactos das atividades internacionais para a indústria e comércio no Brasil e SC?
Claudio Loetz – A indústria comparece com pouco mais de um quarto (27%) na formação da riqueza estadual. E tende a diminuir, se não ficar atenta aos movimentos globais na área de tecnologia, especialmente TI e inteligência artificial. Áreas que vão minando empregos. Notadamente os que exigem menor qualificação. Aliás, isso já vem acontecendo há alguns anos, no rastro do mundo a exigir, cada vez mais, automação, tecnologias e cérebros pensantes qualificados para compreender e atuar assertivamente nestes tempos de ultra transformação da maneira de viver e de trabalhar.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um ligeiro declínio no crescimento global para 2,9% em 2024, em comparação com 3% em 2023. No entanto, grande parte deste crescimento provém da atividade dos mercados emergentes, enquanto o crescimento nas economias avançadas permanece fraco. No Brasil, como você estima que será a inflação e o crescimento?
Claudio Loetz – Em 2023, a inflação no Brasil foi de 4,6%, podendo recuar para menos de 4% neste ano. A taxa de juros básica (Selic), hoje em 11,25%, vai cair mais. Se o ambiente político e macroeconômico permanecer estável, a Selic poderá fechar o ano nos 9,25%. Otimistas sinalizam 9%.
A redução dos juros atende a interesses empresariais e favorece captação de financiamentos para expansão dos empreendimentos. Também diminui o sufoco dos 67 milhões de pessoas físicas endividadas. O crédito menos caro estimula a economia. Neste contexto, o PIB do Brasil pode subir 2% neste ano. Analistas mais cautelosos apontam para alta de 1,6%. Em qualquer destes cenários, ainda é muito pouco para as demandas enormes que o país tem.
O dólar vai permanecer na casa dos R$ 4,90 a R$ 5,00, mantidas as atuais condições da economia e da política. Tanto global como as do âmbito nacional. Como sabemos, bruscas variações podem ocorrer ao sabor de fatos superveniente a, portanto ainda não possíveis de analisar.
Nos últimos meses, a Bolsa de Valores viveu momentos significativos de alta. No final de 2023, chegou a 134 mil pontos. A pergunta que operadores do mercado financeiro fazem: conseguirá a Bovespa atingir 145 mil pontos neste ano?
A lembrar, que o nível de 2023 já foi 22% superior ao do ano anterior.
Um olhar para o cenário econômico externo sugere que haverá, sim, uma relevante desaceleração. China já não cresce mais tanto e isso faz enorme diferença, considerando a grandeza do país asiático.
Nos Estados Unidos, os juros tendem a cair. Possivelmente já a partir das reunião do FED, marcada para o mês de março. Um elemento importante é a inflação norte-americana: de 2% a 2,5%, na previsão para este ano. Aos brasileiros, isso parece o melhor dos mundos. No entanto, para os americanos – que já vivenciaram inflação bem perto de zero por cento – preocupa.
Mesmo assim, o que se espera para 2024, globalmente, é um recuo nada dramático da economia. Deveremos ter o que no jargão econômico se chama de “pouso suave”. Para nós, no Brasil, fatores tranquilizadores ajudam a não temer demais os próximos meses: 1. a calmaria no câmbio; 2. o risco-Brasil no menor patamar desde a pandemia; 3. a dinâmica da balança comercial positiva.