
O Prêmio Nobel de Economia de 2025 trouxe à tona um tema central para o crescimento global: a inovação. No Brasil, o debate ganha relevância diante de um cenário ambíguo, o país demonstra capacidade de inovação em setores estratégicos como petróleo, aviação e farmacêutico, mas enfrenta gargalos estruturais que limitam seu potencial de avanço.
Segundo Graziela Zucoloto, coordenadora-geral de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura do Ipea, o país ainda investe pouco em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e sofre com a falta de continuidade nas políticas públicas voltadas à ciência e tecnologia.
A teoria vencedora do Prêmio Nobel de Ciências Econômicas de 2025 veio em um momento oportuno, na avaliação do economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Aloisio Araujo. O reconhecimento foi concedido aos pesquisadores Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, que explicaram o crescimento econômico impulsionado pela inovação e o conceito de “destruição criativa”, processo em que novas tecnologias substituem modelos antigos, gerando progresso e, ao mesmo tempo, transformações estruturais profundas. Para Araujo, essa teoria reforça discussões que vão da regulamentação das redes sociais aos impactos da inteligência artificial sobre o emprego, além das tensões no comércio internacional e das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que podem minar o desenvolvimento global. No contexto brasileiro, ele ressalta a necessidade de direcionar mais recursos para inovação e pesquisa, mirando o crescimento sustentável da economia.
Apesar dos desafios, o Brasil apresenta conquistas notáveis. Zucoloto destaca que o país tem trajetória sólida em inovação no pré-sal, reconhecida internacionalmente, além de avanços expressivos na aviação, liderada pela Embraer, e no setor farmacêutico, com a expansão dos medicamentos genéricos. Esses progressos, afirma a especialista, são resultado direto de políticas públicas que fomentaram a inovação voltada não apenas ao mercado global, mas também às demandas internas. “São inovações que melhoram a produção e as condições sociais dentro do país”, explica.
A relação entre inovação e sustentabilidade também ganha destaque na análise da pesquisadora. O conceito de “destruição criativa”, enfatizado no Nobel, é essencial para compreender o papel das tecnologias ambientais — que substituem modelos antigos por processos produtivos mais sustentáveis. Mesmo quando a tecnologia não é de origem nacional, a capacidade de difusão interna é estratégica. “A difusão também é central no debate. Ela transforma os processos de produção e permite ao Brasil produzir de forma mais sustentável”, reforça Zucoloto, apontando o potencial do país em energias limpas, como solar e eólica.
Entretanto, uma série de barreiras históricas ainda freia a inovação brasileira. As altas taxas de juros desestimulam o investimento empresarial, tornando mais vantajoso aplicar no sistema financeiro do que investir em novas tecnologias. Soma-se a isso a falta de continuidade das políticas públicas, que impede a consolidação de programas de longo prazo. A especialista também cita o impacto dos lobbies contrários à inovação, especialmente em setores ambientais, e o contingenciamento recorrente do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal fonte de financiamento para ciência e tecnologia no país.
Essas limitações revelam que o problema não está apenas na capacidade técnica, mas na priorização política da inovação. Cortes orçamentários em pesquisa, argumenta Zucoloto, têm efeitos silenciosos, pois os prejuízos aparecem apenas no médio e longo prazo, comprometendo o avanço científico e tecnológico. “Os recursos da ciência são sempre os primeiros a serem cortados porque o impacto não é imediato, mas o resultado é o enfraquecimento da nossa base de conhecimento”, alerta.
Por fim, a pesquisadora lembra que inovar não é sinônimo de promover desenvolvimento social. Nem toda inovação gera bem-estar coletivo, algumas podem ampliar desigualdades ou intensificar danos ambientais. “É possível ter inovações que concentram renda ou aumentam a poluição”, observa. O desafio, portanto, é direcionar políticas públicas para estimular inovações sustentáveis e inclusivas, que aumentem a produtividade sem abandonar a equidade social e o respeito ambiental. O Brasil, conclui Zucoloto, possui potencial, mas precisa transformar sua capacidade criativa em estratégia de Estado.
FONTE: INFOMONEY