
A procrastinação é, sem dúvida, um inimigo silencioso que rouba o tempo, a energia, e deixa as pessoas com a sensação amarga de que poderíamos ser mais, fazer mais, viver mais. Enquanto a maioria oferece soluções rápidas — técnicas, atalhos, aplicativos — poucos param para investigar a raiz do problema. Vale destacar que a procrastinação não é só um problema de organização ou falta de motivação. É algo muito mais profundo, algo que os filósofos gregos já chamavam de akrasia, ou seja, a fraqueza de vontade.
Há mais de 2.000 anos, os estóicos enxergavam a procrastinação como algo muito mais profundo do que preguiça: para eles, era um reflexo de nossas escolhas internas, nossos medos e a forma como lidamos com o tempo. Os estóicos, como Sêneca e Marco Aurélio, defendiam que procrastinar era ceder ao que está fora do nosso controle: preguiça, medo ou distrações externas. Eles acreditavam que a raiz da procrastinação não está no mundo lá fora, mas dentro de nós, na forma como escolhemos agir diante das dificuldades.
Em sua carta Sobre a Brevidade da Vida, Sêneca afirmou: “Enquanto perdemos tempo hesitando e adiando, a vida corre.” Para ele, cada momento gasto adiando o que importa é um pedaço da nossa vida que nunca mais voltará. E aqui está o ponto crucial: a procrastinação não é apenas inércia; é uma falha no nosso controle interno.
Imagine em quantas vezes você adiou começar a economizar dinheiro, abrir aquele negócio ou melhorar sua saúde. O problema não era o “como”, mas o “por quê”. Para os estóicos, procrastinar é resultado de uma mente que não está disciplinada, que escolhe conforto em vez de virtude.
Os estóicos também não eram perfeitos. Eles sabiam que a natureza humana tende a evitar o desconforto. É por isso que nos ensinavam a fazer o que deve ser feito, mesmo que isso vá contra nossos instintos. Marco Aurélio dizia: “Ao amanhecer, quando tiver dificuldade para sair da cama, diga a si mesmo: ‘Eu devo trabalhar como um ser humano. Por que estou insatisfeito se vou fazer o que fui feito para fazer?’”
Uma pesquisa realizada pela consultoria Triad PS, de São Paulo, sugere que cerca de 70% dos brasileiros postergam a realização de tarefas.
Nos Estados Unidos, pelo menos 20% da população se encaixa na categoria de procrastinadores crônicos, pessoas que adiam a realização de tarefas compulsivamente, a ponto de atrapalhar a carreira e os relacionamentos pessoais.
De acordo com o professor da Universidade DePaul, de Chicago, nos EUA, Joseph Ferrari, considerado uma das maiores autoridades no assunto, a procrastinação é “o atraso intencional e frequente no início ou no término de uma tarefa que causa desconforto subjetivo, como ansiedade ou arrependimento”. O professor de Psicologia e autor do livro “Solucionando o Enigma da Procrastinação”, Tim Pychyl, acrescenta que este comportamento é uma estratégia de sobrevivência que visa priorizar as emoções. Não está relacionada a falhas na gestão do tempo, mas no controle das emoções.
Para quem se encontra no universo de procrastinadores, é importante refletir sobre as causas internas e adotar algumas dicas de para evitar esse hábito:
1. Não comece o dia já procrastinando
2. Crie uma lista de tarefas
3. Torne o ambiente adequado
4. Crie metas e estabeleça um prazo limite
5. Comece de uma vez
6. Bloqueie estímulos externos
7. Tenha foco e realize uma coisa de cada vez
8. Resolva as tarefas mais fáceis primeiro
9. Organize-se com agenda
10. Aprenda a gerenciar seu tempo
11. Elimine distrações
12. Desenvolva o autoconhecimento
13. Gerencie suas emoções e sentimentos
14. Estabeleça um sistema de recompensas
15. Pratique a atenção plena
FONTE: Portal Método e Valor – Janeiro/2025