
O modelo de investimento conhecido como search fund, ou empreendedorismo por aquisição, vem ganhando espaço no Brasil e impulsionando uma nova geração de líderes empresariais.
Diferente do venture capital ou do private equity, ele permite que empreendedores adquiram empresas já consolidadas, com base de clientes e produtos sólidos, oferecendo um risco relativamente menor. Segundo levantamento da FGV, da Grant Thornton Brasil e da IE University, a expectativa é que o search fund cresça 56% na América Latina até 2026, consolidando-se como uma alternativa promissora no ecossistema de investimentos.
Na América Latina, já existem 55 search funds ativos, sendo 32 deles no Brasil, o país com maior representatividade na região. Somente em 2024, 29 novos fundos abriram captação, número equivalente ao total dos três anos anteriores somados. A Spectra Investments, gestora com R$ 6,5 bilhões sob gestão, destaca que o interesse pelo modelo vem crescendo rapidamente desde 2017, impulsionado pela busca de empreendedores por alternativas de liderança e por investidores que desejam participar de negócios sólidos com alto potencial de valorização.
O funcionamento do search fund é estruturado em etapas bem definidas. Primeiro, o empreendedor (o searcher) capta recursos junto a investidores para financiar a fase de busca, que pode durar até três anos. Nesse período, ele identifica empresas rentáveis e com possibilidade de expansão. Após encontrar o alvo ideal, uma nova rodada de investimento é realizada para a aquisição, e o próprio searcher assume a gestão, aplicando práticas modernas e estratégias de crescimento. Depois de consolidar resultados, a empresa pode ser vendida, gerando retorno tanto para o empreendedor quanto para os investidores.
De acordo com Caio Nascimbeni, fundador da Atlante Capital, que adquiriu a empresa Syonet em 2023 por meio de um search fund, esse modelo é vantajoso para todas as partes envolvidas. “Há uma relação próxima entre searcher e investidor, e o investidor tem a oportunidade de conhecer o ativo antes de aportar recursos. Para o searcher, é uma chance única de se tornar CEO e viver a experiência de liderar uma companhia”, explica. Nascimbeni também ressalta o potencial do modelo para movimentar positivamente o ambiente empresarial brasileiro, ao profissionalizar a gestão de empresas médias e familiares.
O perfil dos searchers brasileiros também vem mudando. Antes concentrado em jovens recém-formados em MBAs no exterior, hoje inclui executivos experientes, ex-empreendedores e profissionais que desejam liderar empresas já estruturadas. Segundo Frederico Wiesel, sócio da Spectra, a experiência prévia não é um impeditivo, já que esses novos CEOs contam com conselhos e redes de apoio ativos, que garantem acompanhamento próximo e orientações estratégicas durante o processo de gestão e transição.
Com resultados expressivos, o modelo começa a mostrar seu impacto. Sob o comando de Nascimbeni, a Syonet registrou faturamento recorde de R$ 60 milhões em 2024, crescimento de 30% sobre o ano anterior, conquistou 110 novos clientes e expandiu sua atuação para o México. A nova geração de CEOs impulsionada pelos search funds tem se destacado por implementar modelos de gestão baseados em métricas, fortalecer o capital humano e acelerar a transformação digital. Para especialistas, o search fund ainda está em estágio inicial no Brasil, mas o potencial de expansão é enorme há capital disponível, empresas promissoras e uma geração preparada para assumir o comando.
FONTE: Época Negócios