
O uso de medicamentos psiquiátricos entre profissionais brasileiros cresceu de forma alarmante em 2025, revelando um cenário de sofrimento generalizado no ambiente corporativo.
Uma pesquisa realizada pela The School of Life, em parceria com a consultoria Robert Half, aponta que 52% dos líderes e 59% dos liderados recorrem a psicofármacos para lidar com estresse, ansiedade e burnout.
O aumento é expressivo: no caso dos líderes, o índice quase triplicou em apenas um ano, saltando de 18% em 2024 para mais da metade em 2025.
Entre os principais fatores que explicam esse quadro, estão a sobrecarga de trabalho (37%), a pressão excessiva por resultados (33%) e os conflitos interpessoais (31%). Especialistas alertam que o ambiente de negócios cada vez mais competitivo e com menos recursos gera estresse crônico, capaz de desencadear quadros de depressão, insônia e ansiedade. “Os líderes usam esses remédios como uma bengala, uma forma de disfarçar a sobrecarga sem pedir ajuda”, explica Arthur Guerra, professor da USP e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
A medicalização, no entanto, não resolve as causas estruturais. Para Jackie de Botton, diretora criativa da The School of Life, os psicotrópicos funcionam como analgésicos: aliviam momentaneamente, mas não atacam os problemas centrais, como falhas de comunicação, desvalorização profissional e medo de punições injustas. O risco, segundo os especialistas, é perpetuar um ciclo de sofrimento silencioso, que afeta tanto a saúde individual quanto o desempenho coletivo das organizações.
Os impactos já são visíveis em escala nacional. Dados da VR mostram que os afastamentos por questões de saúde mental aumentaram 143% entre janeiro e julho de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024. O Brasil já havia registrado, no último ano, o maior número de licenças por transtornos mentais em uma década, ultrapassando 472 mil afastamentos. Para as empresas, o prejuízo também é bilionário: estudo da Gallup estima que falhas relacionadas à saúde mental custem US$ 8,9 trilhões anuais à economia global.
Apesar da gravidade, falar sobre o tema ainda é tabu. A pesquisa revela que 73% dos gestores e 33% dos colaboradores não se sentem à vontade para informar suas lideranças sobre o uso de psicofármacos, reforçando uma cultura de silêncio e insegurança psicológica. Para especialistas, enfrentar o problema exige mais do que remédios: passa por transformar a cultura organizacional, criar espaços de acolhimento e investir em prevenção real, com metas realistas, comunicação transparente e suporte emocional contínuo.
FONTE: FORBES