Tecnologia e questões sociais andam juntas no desenvolvimento humano
Neurociência, inteligência artificial, algoritmos, códigos binários… São termos que vêm se popularizando nos últimos anos, referindo-se a avanços tecnológicos importantes, impactando a humanidade com uma velocidade impressionante – a chamada “velocidade exponencial”. Além dos avanços proporcionados, levanta-se outra questão: até que ponto as tecnologias podem substituir a atividade humana? E como as questões sociais, como equidade e diversidade, afetam as organizações? PIB é mais importante que a felicidade de uma nação?
O Seminário Pessoas, realizado durante a Expogestão 2024, respondeu a estas e outras questões. Mediado por Ilcilene Floriani de Oliveira, presidente da ABRH-SC e gerente de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas no Porto Itapoá, o seminário reuniu Carla Tieppo, CEO da Ilumne Consultoria; Pedro Lins, professor associado da Fundação Dom Cabral; Alejandra Naruz, diretora de Gente & Cultura no Grupo Softplan; Pedro Pereira, diretor de Gente e Gestão da Metal Group; Ariane Espindola, diretora de Gente e Cultura na Portobello Shop.
Uma das mais renomadas neurocientistas do Brasil, Carla Tieppo afirma que vivemos um tempo de incerteza: “Por mais que a gente conheça isso há muito tempo, tem dificuldade de efetivamente entender qual é a progressão e para onde isso vai. Não vamos conseguir nos livrar dessa ciência mais elaborada que a gente mesmo construiu. Não veio um ET aqui e nos entregou. Essa ciência é fruto nosso”.
Para a neurocientista, é possível aumentar a segurança das organizações com diversidade e pessoas: “Essa diversidade não tem nada a ver com justiça social, gênero, raça ou idade. É a diversidade de ideias e de formas de ver o mundo. De experiências e de percepções”. Investir em desenvolvimento humano, colocar a tecnologia a serviço das pessoas, não contra elas.
Índice de felicidade
Pedro Lins ilustrou sua exposição relembrando o tempo em que trabalhou como assessor do primeiro-ministro do Butão, há vinte anos. No pequeno país asiático, espremido entre os gigantes China e Índia, Lins vivenciou a transformação de PIB – Produto Interno Bruto – em FIB – Felicidade Interna Bruta. “Os butaneses – explicou – acreditam que, ao integrar o conceito de bem-estar para as organizações, contribuem para um aumento da felicidade, satisfação dos colaboradores e maior impacto na sociedade.”
Tal processo foi adaptado pela Fundação Dom Cabral, baseando-se nos pilares preservação do ambiente, desenvolvimento da cultura, promoção dessa cultura e boa governança. Qualquer semelhança com o famoso ESG é pura coincidência, garante. “Então deixe um canal de você propor inovação e criatividade dentro da sua empresa, provocando cada vez mais o bem-estar e a felicidade, dando essa oportunidade de troca de experiência.” Concluindo: após a implantação da FIB, o PIB do Butão cresceu mais de dez vezes.
Alejandra Naruz, uma “uruguaia importada pelo Brasil”, abordou os temas diversidade, inclusão e equidade de gênero, a partir de sua experiência como gestora da área de cultura na Softplan. “O marketing, o branding da empresa tem tudo a ver com cultura e com pessoas. Não prometer cargo e salário, mas propor desafios que vão te transformar nessa jornada.”
Esse modelo tem três pilares: “O primeiro é pertencimento, que o colaborador tenha o sentimento de pertencer à organização. O segundo é evolução, crescer junto com a empresa. O terceiro pilar é o reconhecimento. Então você parte do sentimento de pertencimento, você vai evoluir conosco e como consequência, a gente vai dar o merecido reconhecimento”.
Valorizar o talento
Pedro Luiz Pereira, diretor de Gente e Gestão do Metal Group, alerta: “O mundo quer que você seja diferente do que você é, principalmente nas organizações. Eu vejo como um grande conflito organizacional essa ânsia de querer mudar as pessoas, de querer que elas sejam diferentes daquilo que elas são.”
Certo, para Pereira, é valorizar o talento das pessoas: “Nós precisamos encontrar as pessoas de acordo com o DNA delas. E observar as possibilidades ao propor desafios. Mas os desafios precisam também ser calculados, porque tem mais gente que fracassa por garra e determinação do que o contrário”.
Ariane Espíndola abordou a transformação digital, tornando o mundo cada vez mais acelerado e dinâmico. “Não adianta termos as melhores tecnologias, os melhores processos desenhados se nós não cuidarmos das pessoas. Quais são os conhecimentos, as competências, que habilidades o time tem e, principalmente, qual é a atitude desse time para capitalizar toda a infraestrutura digital e usar o conhecimento disponível?”
A discussão, para Ariane, não é o quanto a gente tem que temer a tecnologia, mas que se desafie a conhecê-la. “A gente tem profissionais que sabem fazer o uso da ferramenta e se diferenciam, se destacam e outros que relutam e ficam pra trás. Vemos como a adaptação à mudança é uma vantagem competitiva. Isso é natural da raça humana, em cada momento a gente precisa se adaptar a um contexto, seja uma pandemia, uma guerra, uma nova tecnologia. É a nossa natureza. O que faz a transformação digital, a cultura digital acontecer são as pessoas.”