No fim do ano, pessoas e organizações se propõem metas para o ano seguinte, entre elas aprender algo diferente, adquirir um novo conhecimento. A neurociência pode ser uma boa aliada nesse planejamento – e na execução. Quem aponta esse caminho é Carla Tieppo, doutora em psiconeurofarmacologia. Pioneira na aplicação da neurociência no desenvolvimento humano e organizacional, ela é sócia-fundadora e CEO da Ilumne Consultoria foi palestrante da ExpoGestão 2024. Professora e pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, é idealizadora e coordenadora da pós-Graduação em neurociência e o futuro sustentado de pessoas e organizações.
“Muita gente tem entendimento equivocado, mistura neurociência com neurolinguística, acha que é um conjunto de técnicas, quando no fundo nós estamos falando de conhecimento”, diz Carla. A neurociência estuda o funcionamento do cérebro, e a interface dele com o processo de educação, tanto a formal quanto a continuada, que inclui o chamado long life learning.
Como ciência, constrói um novo olhar sobre o aprendizado, incluindo a compreensão dos fenômenos cerebrais que estão em curso e os novos conhecimentos e comportamentos que estão sendo incorporados. “A neurociência analisa a relação entre processos neurais e suas correlações com outros campo do conhecimento. A interface entre processos de aprendizagem e funcionamento do cérebro pode nos levar a lugar que as outras abordagens não nos levaram”, afirma a neurocientista.
É comum as pessoas questionarem: isso é psicológico ou é do cérebro? Carla Tieppo garante que não existe essa diferença: “O cérebro é responsável pela manifestação da mente. Você pensa ou chora porque o seu cérebro fez alguma coisa. Não existe um fenômeno apartado do cerebral. Então, não existe aprendizado sem modificações, sejam físicas ou funcionais do cérebro. Fisiológicas ou morfológicas”.
Desafio organizacional de incorporar o conteúdo
As organizações tem enfrentado problemas no processo de aprendizado, segundo Carla Tieppo: “As empresas criam mecanismos para fazer com que as pessoas tenham que aprender, sejam avaliações, listas de presença, cobranças, meritocracia baseada em certificados, promoções baseadas em certificados, sem considerar a importância do que realmente ficou daquele processo, sem garantir que o conteúdo foi incorporado à lógica funcional do indivíduo. É um grande desafio”.
Há muitos líderes precisando que as pessoas aprendam coisas. Como motivar um aprendizado que realmente funciona, sem repetir o processo escolar que não é eficiente? Carla responde: “Tem que montar todos os sistemas de aprendizado dentro das organizações, baseados em andragogia e neurociência. Andragogia é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender. Esses princípios são reforçados pelo conhecimento neurocientífico. Os líderes devem se familiarizar com esses princípios, aprender a ser educadores. Precisam ter um time dentro das organizações, com quem possam discutir sobre esses princípios.
Se as empresas e os profissionais não dominam esses mecanismos, esses conceitos para promover aprendizados que deem resultado, como fazer? “Se aproximar da neurociência, de todas essas considerações, todas essas diferenças que a neurociência reconhece no aprendizado, a diferença de conhecimento técnico para conhecimento comportamental. Entender o ritmo que cada um desses comportamentos tem”, conclui a neurocientista.
Entrevista exclusiva para o blog ExpoGestão