A palavra é “desglobalização”
“O mundo é plano” foi a afirmação que Thomas Friedman utilizou, em 2005, para intitular seu livro, com o subtítulo “Uma história breve do século XXI”. A frase (na verdade, dita pelo antigo CEO da Infosys, Nandan Nilekani) foi utilizada pelo economista Fernando Ulrich para iniciar sua palestra no segundo dia da Expogestão 2022. Intitulada “A nova matriz econômica mundial”, a palestra abordou as recentes transformações do mundo, em direção a uma desglobalização, com a defesa de interesses próprios e a formação de novos blocos regionais, provocando uma desintegração das cadeias produtivas, entre outras consequências.
Como será a nova ordem econômica mundial no turbilhão de mudanças no pós-pandemia? Quais os impactos da guerra na Ucrânia no rearranjo da cadeia produtiva global? Essas e outras questões foram abordadas pelo economista
Fernando Ulrich, especialista em finanças corporativas.
Fatores que achataram o mundo
“O mundo é plano – detalhou Ulrich – no sentido de que a globalização nivelou a competição entre os países industrializados e os emergentes. Thomas Friedman cunhou o termo Globalização 3.0, com ênfase nas pessoas, diferenciando esse período da Globalização 1.0, na qual governos e corporações eram os grandes protagonistas, e da Globalização 2.0, na qual companhias multinacionais conduziam a integração global.”
Entre os fatores que “achataram” o mundo, o primeiro é a queda do Muro de
Berlim, em novembro de 1989, dando início ao desmoronamento da União
Soviética e o fim da Guerra Fria. “Seria, simbolicamente, a vitória do capitalismo sobre o socialismo”, resume Fernando Ulrich.
Outro fator foi a entrada, em dezembro de 2001, da China na Organização Mundial do Comércio. “Xi Jin-Ping estabeleceu o ano de 2049, centenário da Revolução Comunista, como marco para que a China se torne potência hegemônica no planeta.”
O planeta volta a ser redondo
O processo de desglobalização hoje em movimento teve um episódio marcante em 2017, com o início da guerra tarifária movida por Donald Trump, especialmente como uma reação às pretensões chinesas. Joe Biden manteve essa política, o que provocou reações em cadeia pelo mundo.
E veio a pandemia da Covid-19… “A pandemia forçou o isolamento das nações, que precisaram recorrer, cada uma a seu modo, a medidas de contenção. Com a retração no consumo, muitos países adotaram o auxílio emergencial. Se, por um lado, o auxílio de fato ajudou as pessoas, por outro pecou pelo excesso, provocando aumento da inflação nos Estados Unidos e um desequilíbrio macroeconômico no mundo, devido às reservas em dólares”, resumiu Ulrich.
Quando a pandemia começa a arrefecer e a normalidade vai voltando, vem a guerra da Ucrânia. “Alta do petróleo, a aliança Rússia-China… Muita instabilidade e mais retração.” O episódio mais recente é a tensão em torno de
Taiwan. “Cinco estatais chinesas já se retiraram da Bolsa de Nova York, indicando que a China está se preparando para enfrentar as consequências de uma invasão a Taiwan”, lembra Ulrich.
E o Brasil, com fica nessa onda de desglobalização? “O país precisa manter sua força no agronegócio e na exportação de minério de ferro, mas precisa ter habilidade para negociar”, conclui Fernando Ulrich.