A economia circular associa desenvolvimento econômico ao melhor uso de recursos naturais, por meio de novas oportunidades de negócios e da otimização na fabricação de produtos. A ideia é depender menos de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis.
“Economia circular nada mais é do que a continuação do ciclo de vida”, define Guilherme Brammer, CEO e fundador da Boomera, empresa reconhecida como uma das cinco startups que estão tornando o continente americano mais sustentável. A companhia ajuda grandes empresas a transformar sua forma de produção em um modelo mais sustentável.
De acordo com pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) feita em 2019, 76,5% das indústrias desenvolvem alguma iniciativa de economia circular, embora a maior parte não saiba que as ações se enquadram nesse conceito. Entre as principais práticas apontadas no levantamento estão a otimização de processos (56,5%), o uso de insumos circulares (37,1%) e a recuperação de recursos (24,1%). A pesquisa mostra ainda que 88,2% dos entrevistados avaliaram a economia circular como importante ou muito importante para a indústria brasileira.
Segundo paralelo traçado por Brammer na Expogestão 2020 entre a economia linear e a circular, a “pegada” deixada na Terra é um ponto de partida: em 75 anos de vida, entre outras coisas um ser humano consome 13 mil ovos, 5.600 cervejas, 15 porcos, 9 mil litros de leite, 5.700 maçãs, quatro bois; lê 533 livros; toma 7 mil banhos; e produz 40 toneladas de lixo. “Na economia linear – explica Brammer – o ciclo de vida é curto. Peguemos o exemplo do petróleo e seus derivados. Enquanto a natureza leva milhões de anos para formá-lo, a transformação em matérias-primas leva meses, a fabricação dura alguns dias, a distribuição leva horas ou até minutos e o fim da vida toma algumas centenas de milhares de anos.”
O ser humano criou o desperdício
Muito desta curta duração se deve ao desperdício, uma criação do ser humano. A economia linear reflete bem essa condição: há muita geração de lixo; valoriza-se exageradamente o valor embutido (de um celular, por exemplo, pouco se aproveita quando ele “morre”); a vida útil é cada vez mais curta (quanto dura uma lâmpada?); há ociosidade (quantas vezes você usou aquela furadeira, desde que a adquiriu?).
O documentário “Um Presente à Prova de Futuro”, produzido pela Tocha Filmes, discute o atual modelo econômico linear (exploração, produção, consumo e descarte), que cada vez mais coloca em risco o futuro da vida no planeta. O filme acompanha uma família holandesa em seu cotidiano para entender como essas ideias inovadoras já fazem parte da vida das pessoas.
Filmado no Brasil e na Holanda, o documentário investiga os princípios da Economia Circular, idealizada na Holanda.
“O modelo de desenvolvimento atual – detalha Brammer – leva em conta fatores como custo, tempo, produtividade, proteção e visual. Tudo isso impacta o mundo. Bilhões de produtos são descartados.” Aí entra a economia circular, com seus cinco modelos de negócios potenciais: supply chain circular (a cadeia de suprimentos, processo que envolve todas as operações de uma empresa, da compra da matéria-prima até a fabricação e entrega); recuperação e reciclagem; extensão da vida útil; plataforma de troca; produto como um serviço (exemplo: o aluguel de bens como filtro de água e turbina de avião). “Tudo é uma questão de mudança de mindset (forma de ver o mundo). Apaixone-se pelo problema, não pela solução, pois amanhã ela já pode não ser mais uma solução”, garante Brammer.