
Qual é o cenário econômico atual e o que cada um pode fazer diante dele? Essa é a grande pergunta do momento. “Observamos projeções de PIB em 3,5% e inflação de 4,5%. Ninguém sabe o que o futuro reserva, não é possível fazer previsões exatas. Ainda assim, podemos compreender o panorama mundial, identificar os riscos no radar e, com isso, nos planejar. Aquilo que está sob nosso controle, podemos e devemos fazer”, pontua Fernando Ulrich.
Com mais de 22 anos de experiência em finanças corporativas e investimentos, Ulrich compartilhou seus conhecimentos durante o Seminário Executivo, realizado em 11 de junho, como parte da programação da ExpoGestão 2025.
Em sua apresentação, ele destacou que eventos como decisões políticas em Brasília, conflitos internacionais ou mudanças no governo dos Estados Unidos estão fora do nosso alcance de controle. “As notícias nas redes sociais, os rumores e os boatos são os mais preocupantes. Agora, por exemplo, aguardamos uma medida provisória com nova taxação, que ainda não sabemos se será aprovada. São essas medidas vindas de Brasília das quais precisamos constantemente nos proteger”, alerta.
O economista expressa preocupação com a atual política econômica do país, marcada por aumentos de impostos, intervencionismo e crescimento dos gastos públicos. Embora o governo tente retomar práticas similares às do segundo mandato de Dilma Rousseff, há hoje mais freios institucionais, como o Congresso Nacional e a opinião pública, que limitam a implementação dessa agenda.
Ulrich adverte que, apesar do controle temporário proporcionado pelo novo arcabouço fiscal, considerado mais permissivo que o antigo teto de gastos, o cenário se agravará a partir de 2027, quando quase 100% do orçamento estará engessado por lei. Sem reformas, o país corre o risco de enfrentar uma crise fiscal séria, pois recorrer à simples emissão de moeda, como feito no passado, não é mais viável.
Falando do cenário internacional, Ulrich aponta para a crescente instabilidade, impulsionada por conflitos geopolíticos e incertezas trazidas por líderes como Donald Trump, o que contribui para um ambiente global cada vez mais volátil e imprevisível. Nas últimas semanas, o confronto entre Rússia e Ucrânia se intensificou e a perspectiva de cessar-fogo ou acordo de paz ainda parece distante. “Isso é muito preocupante, porque, com o tempo, o risco de o conflito envolver outros países, especialmente nações do Leste Europeu ou mesmo grandes potências como Alemanha, França e Reino Unido, se torna real”, alerta.
A tensão entre China e Taiwan também permanece como uma ameaça constante. “Ninguém sabe quando ou se algo vai acontecer, mas é um dos riscos com os quais precisamos estar atentos”, observa Ulrich. Ele acrescenta que a própria agenda econômica de Trump tende a acirrar essas incertezas, embora pretenda explorar esse tema com mais profundidade em outra palestra.
“No Brasil, é difícil fazer engenharia financeira baseada em crédito barato e juros baixos, porque essa realidade simplesmente não existe aqui. E, hoje em dia, até mesmo nos Estados Unidos, com juros em 4,5%, esse tipo de operação está mais complicado. É preciso cuidar do caixa e da liquidez”, orienta o especialista.
Ulrich lembra que o real brasileiro, desde a sua criação em 1994, já perdeu cerca de 87% do poder de compra. E a tendência é que as moedas continuem se desvalorizando nos próximos anos, o que vale para o real, o dólar, o euro, o iene, o yuan, entre outras. “Isso significa que tudo o que é precificado em moedas tende a se valorizar, especialmente os ativos reais. Por isso, defendo o investimento em bitcoin, não apenas como proteção patrimonial ou potencial de valorização, mas também por representar liberdade e autonomia financeira. O bitcoin pode ser custodiado diretamente, sem risco de confisco ou bloqueio. E ele não é o único ativo que pode se beneficiar em cenários de inflação monetária.”
Para ele, o planejamento tributário, sucessório e familiar é essencial. “Muitos empresários e investidores gastam tempo, com razão, definindo alocação de ativos: quanto deixar no CDI, em ações, fundos imobiliários, tesouro IPCA ou no exterior. Mas dedicam bem menos atenção ao planejamento sucessório e tributário, que pode representar perdas muito maiores em caso de herança, divórcio ou disputas societárias.”
Ulrich conclui com uma reflexão contundente: “Por que o juro é tão alto no Brasil? Porque o governo absorve toda a poupança nacional. Não há mágica. Enquanto não reformarmos o Estado para gastar menos e viver dentro do que arrecada e, principalmente, para reduzir impostos em vez de aumentá-los, não há muito o que fazer.”