Indústria 4.0 não é mais inovação. É necessidade
Sua empresa já esta integrada à transformação digital e à indústria 4.0? Para o CEO e fundador da Pollux, José Rizzo Hahn Filho, as empresas que ainda não entenderam a importância estratégica de acelerar nessa jornada, provavelmente irão sair do negócio. A pandemia foi o estopim de uma corrida industrial para atualizar processos de produção e para não ficar para trás – ou desaparecer – no pós-pandemia. Como consequência disso, empresas como a Pollux, reconhecida por fazer a indústria 4.0 acontecer com sua tecnologia para o setor de manufatura, cresceram significativamente.
Só no ano passado, a Pollux triplicou seu crescimento e, neste ano, foi adquirida pela Accenture, empresa global de soluções digitais com mais de 500 mil funcionários em todo o mundo. Juntas, devem entregar soluções ainda mais conectadas aos clientes, com um diálogo e eficiência ainda maior entre a fabricação e a operação.
Nesta entrevista para a série A Inovação pelo CEO, José Rizzo fala sobre a Pollux, inovação, transformação digital, a alta demanda de pessoas no mercado de TI e a atuação da Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII), da qual é presidente.
A Pollux foi adquirida pela Accenture. O que o mercado pode esperar dessa sinergia?
Quando falamos de indústria 4. 0, pensamos na fábrica do futuro, o negócio lá na frente. Para isso, temos que convergir duas áreas importantes do negócio: a área de tecnologia da informação – que há muito tempo vem sendo a responsável pela parte de sistemas da empresa – e a área de tecnologia de operações, que são os equipamentos e os sistemas que estão na manufatura.
Até recentemente, estas duas áreas funcionavam de formas separadas nas empresas. A indústria 4.0 nada mais é do que você juntar as duas coisas, fazer com que haja uma conexão total do negócio. A Accenture sempre atuou mais na área de TI e tem uma tradição tecnológica nessa área. A Pollux tem 25 anos de experiência na área de tecnologia de operações. A ideia da aquisição foi trazer essa competência para atender tanto os clientes da Pollux quanto os da Accenture com um solução end to end, e ajudá-los a desenvolver uma solução que vai desde os robôs até a nuvem.
“Muito do que fazemos na Pollux está sendo feito pela primeira vez no mundo. Criamos vários sistemas e linhas que não existiam antes.”
Processo de inovação
Tínhamos antigamente situações em que precisávamos trazer a inovação para a empresa ou fomentá-la criando um ambiente mais propício, fazer um esforço nesse sentido. A Pollux já nasceu como uma empresa puramente de inovação. O nosso dia a dia, interagindo muito próximo aos nossos clientes, grandes fabricantes – temos clientes no setor alimentício, aeronáutico, automotivo – nos fornece um amplo conhecimento do processo da manufatura. O nosso dia a a dia é estar junto com eles e identificar o que precisam melhorar, resolver, qual a sua dor. Baseado nisso, o nosso time desenvolve uma solução para endereçar esse problema.
A Pollux não é uma empresa que tem um produto que oferece para vários clientes. Ela, na verdade, oferece soluções para atender demandas diferentes, desde uma linha para fazer a montagem de um carro até uma solução de e-commerce para uma grande empresa de alimentos. Aqui, o desafio de inovar é contínuo. Recebemos uma boa dose de desafios todos os dias, e o nosso time se acostumou a isso.
Para um ambiente desses funcionar, é preciso ter o espírito de inovação, entender que os erros vão acontecer e que sempre é um aprendizado. Muito do que fazemos na Pollux está sendo feito pela primeira vez no mundo. Criamos vários sistemas e linhas que não existiam antes.
Quando você está sob pressão para desenvolver um equipamento complexo e tecnológico, sempre existe a chance de algo precisar ser refeito ou consertado. É importante ter esse entendimento que o erro faz parte da inovação. Quanto mais você faz, mais você aprende. E esse aprendizado te ajuda no próximo desenvolvimento.
Com a pandemia, a transformação digital deixou de ser uma tendência para o futuro para ser uma necessidade do agora. Como você avalia essa momento que vem impactando todos os setores? Como isso tem influenciado no negócio e no crescimento da Pollux?
A melhor maneira de verificarmos o quanto isso se intensificou é entender o quanto a Pollux cresceu. Mesmo com pandemia, nosso crescimento do ano passado (2020), foi muito grande (em 2020, a Pollux expandiu para fora do país e o volume de negócios em relação ao ano anterior foi três vezes maior), justamente porque um número maior de empresas entendeu o quão estratégico era seguir e acelerar nessa jornada.
A discussão sobre transformação digital – e a própria indústria 4.0 – completou 10 anos agora. A verdade é que, nos primeiros cinco anos, havia muito mais uma discussão a respeito das possibilidades dessa transformação, baseadas na promessa de tecnologias avançadas como a nuvem, inteligência artificial, manufatura aditiva. Foi um despertar onde todo o mundo estava tentando entender. De cinco anos para cá no mundo, e no Brasil, três anos, a visão passou a ser essa: quem tinha que entender, entendeu. Quem não entendeu até agora, provavelmente, vai sair do negócio.
Nós, como Pollux, e também a ABII (Associação Brasileira de Internet Industrial) , passamos a investir mais tempo com empresas que entenderam essa importância e decidiram seguir adiante nessa jornada da indústria 4.0.
Quando a pandemia veio, quem já estava mais a frente, teve muito mais facilidade em se adaptar. Isso mostrou o quanto é possível, através da digitalização e da conexão, ser mais eficiente e operar em um mundo diferente.
A pandemia primeiramente deu um impacto, primeiro todo o mundo parou, paralisou. Nesse cenário, as empresas de tecnologia se sobressaíram. No mundo inteiro, empresas de tecnologia cresceram muito, porque a tecnologia se tornou necessária, e empresas que não a utilizavam tiveram muita dificuldade em até sobreviver. Estamos agora em um momento onde uma parte importante das empresas já decidiu: isso é transformador, não posso hesitar. É um momento bem intenso, onde a transformação está realmente acontecendo e ficar fora dela é assinar um atestado de óbito.
“A discussão sobre transformação digital – e a própria indústria 4.0 – completou 10 anos agora. A verdade é que, nos primeiros cinco anos, havia muito mais uma discussão a respeito das possibilidades dessa transformação (…) De cinco anos para cá no mundo, e no Brasil, três anos, a visão passou a ser essa: quem tinha que entender, entendeu. Quem não entendeu até agora, provavelmente, vai sair do negócio.”
A demanda por uma mão de obra especializada na área de TI é uma realidade mundial. Qual a sua visão sobre isso? Há uma demanda maior ou falta formação qualificada?
As duas coisas. É uma combinação de fatores que formam uma tempestade perfeita que pode gerar um apagão de talentos por estas razões combinadas. Hoje, quando falamos de transformação digital, de todos os desafios que existem – tecnológicos, financeiros, segurança, cibersecurity – o mais complicado é justamente o quadro de pessoas para implementar tudo isso. Primeiro, há um déficit global. O volume de coisas a fazer é maior do que o mundo consegue formar de pessoas. Existem vários países que já têm um contingente maior de pessoas em tecnologia e acabam tendo um problema um pouco “menor”. Por exemplo, a quantidade de engenheiros que a Ásia forma. Países como Japão, Coréia, China, países que tradicionalmente muitos jovens optam por uma carreira em tecnologia. No lado ocidental, existe uma diversidade maior na busca de carreira. Por alguma razão, nos últimos anos, nota-se, também nos EUA e Europa uma redução do interesse dos jovens pelo que chamamos de STEM – área de ciências, tecnologia, engenharia e matemática.
O Brasil acabou acumulando uma série de problemas. Já temos uma educação deficiente, e houve uma evasão mais forte de pessoas que deixaram de seguir a carreira de tecnologia. Já formamos poucas pessoas, e agora temos um problema adicional importante que é o assédio de empresas de fora do país porque agora trabalhar em home office ficou natural.
Programadores e projetistas podem trabalhar em qualquer lugar. E, com a economia do Brasil em uma situação ruim – e uma defasagem tremenda no câmbio – passamos a competir também com empresas de fora que contratam. Isso se acelerou muito na pandemia e tem pessoas que se especializaram em fazer esse tipo de conexão, encontrar vagas de empregos em outros países e profissionais do Brasil.
E na Pollux?
Na Pollux, a gente tem conseguido, de certa forma, resolver essa situação, pela própria empresa e a nossa cultura. Há dez anos seguidos somos uma das melhores empresas para se trabalhar no país e agora, com a Accenture, uma empresa global, teremos ainda mais oportunidades de crescimento e desenvolvimento. É uma combinação de coisas que nos ajudam a ser mais atraentes do que a média.
Olhando pra frente, é uma coisa que preocupa. Pra não ficar de braços cruzados, nos envolvemos em inúmeras iniciativas que existem nas universidades para estimular desde cedo os jovens a considerarem a área de tecnologia, física, matemática. É um trabalho que precisa ser feito em escolas e universidades para tentar minimizar o problema, mas o problema já existe.
“Hoje, quando falamos de transformação digital, de todos os desafios que existem – tecnológicos, financeiros, segurança, cibersecurity – o mais complicado é justamente o quadro de pessoas para implementar tudo isso. Primeiro, há um déficit global. O volume de coisas a fazer é maior do que o mundo consegue formar de pessoas.”
Atualmente, você é presidente da Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII). Qual o papel da ABII no fortalecimento da Indústria 4.0?
A motivação de criar a ABII foi a de que esse movimento estava acelerado em todo o mundo, mas no Brasil não estávamos fazendo o dever de casa. Criamos a ABII com o objetivo de acelerar a adoção da indústria 4.0 e da internet industrial no País, pois o Brasil e a sua manufatura não poderiam abrir mão disso.
Na associação todos somos voluntários que dedicam parte do seu tempo para acelerar esse movimento. A ABII completa agora cinco anos e, nos três primeiros anos, a nossa missão foi de divulgar, explicar o que é a internet industrial das coisas, o que é a indústria 4.0, transformação digital. Fizemos vários eventos pelo Brasil e participamos de palestras com o objetivo de criar esse entendimento – o awareness desse conceito.
No final de 2019, entendemos que essa missão tinha cumprido o seu papel. Passamos então a ajudar as empresas que haviam decidido a seguir este caminho, pois não é um caminho fácil de seguir. São obstáculos financeiros, tecnológicos, de pessoas. De 2020 para cá, temos dedicado o nosso tempo a ajudar esses times dentro das empresas. Empresas como a Tupy e a Ciser, por exemplo, criaram alguns desses times, e praticamente entraram juntas na ABII. Agora, elas conversam com profissionais de outras empresas, como a Embraer, outra associada, e elas trocam boas práticas, ideias, discutem projetos, para acelerarem o aprendizado.
Para quem não é associado, nós divulgamos os conceitos, por meio de lives e encontros. Para os associados, nosso papel é criar uma rede para que os profissionais com a missão de levar adiante essa transformação em suas empresas encontrem seus pares e se ajudem mutuamente.
A Pollux…
A Pollux é uma empresa de tecnologia para o setor de manufatura e, nos últimos anos, alinhamos o nosso negócio no conceito da indústria 4.0 a tal ponto que nos tornamos uma referência nas Américas. Somos uma empresa que acaba de completar 25 anos, atuando muito na área de robótica e de dados e atendendo a área de manufatura, conectando a manufatura ao sistema. Aos poucos, a Pollux ficou conhecida como a empresa que faz a indústria 4.0 realmente acontecer.
…e o seu propósito
Ajudamos as empresas de duas formas. Uma é aumentando a eficiência das operações. A outra, criando novos modelos de negócio com essas tecnologias, fazendo com que elas possam fazer negócios de formas diferentes de como eram feitas.
Sempre baseada em inovação, a Pollux tem sido pioneira no país em implementar novas tecnologias há bastante tempo e recentemente fomos adquiridos pela Accenture.
A Accenture é uma empresa global, e o nosso papel dentro dela é fazer justamente o nosso trabalho, mas dentro de uma plataforma maior, também de tecnologia, e que está mais ligada à parte de TI, de sistemas de cloud. A Pollux, de certa maneira, complementa com essa competência de fato.
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