
Com juros em patamar elevado e custos pressionando o orçamento das empresas, o mercado de trabalho brasileiro deve atravessar 2026 com pouco espaço para reajustes salariais. Um levantamento realizado pela Michael Page, uma das principais consultorias globais de recrutamento, revela que apenas 20% das organizações planejam conceder aumento real , acima da inflação , aos seus colaboradores no próximo ano.
A insatisfação é evidente do lado dos profissionais. Segundo a pesquisa, que ouviu mais de 7 mil trabalhadores de 998 empresas de todo o país, quase 60% não tiveram nenhum reajuste nos últimos 12 meses e apenas 5% afirmam estar satisfeitos com a remuneração atual. Ainda assim, a disputa por mão de obra qualificada segue acirrada: 73% das companhias apontam dificuldades para contratar talentos. O problema, explica Lucas Oggiam, diretor da Michael Page no Brasil, atinge todos os níveis: “Há dificuldade de encontrar mão de obra básica, qualificada e até executiva”.
O Brasil forma, tecnicamente, bons profissionais, mas em ritmo insuficiente para acompanhar as demandas do mercado globalizado. Oggiam destaca um gargalo persistente: o domínio do inglês. “Esse segue sendo um grande limitador competitivo para o país”, aponta. Com caixa curto, as empresas têm sido criteriosas nas prioridades: “Os juros estão insuportavelmente altos e há enorme pressão sobre o fluxo de caixa”, completa.
Sem condições de ampliar salários, as organizações buscam reforçar o pacote de benefícios como estratégia de retenção. Hoje, 55% das empresas reconhecem que benefícios são determinantes na atração de talentos. Do outro lado, 42% dos profissionais desejam formatos flexíveis, como carteiras adaptáveis às suas necessidades. Porém, a adoção avança devagar: menos de 40% das empresas oferecem modelos flexíveis, de acordo com a consultoria.
Além da técnica, competências comportamentais se tornaram cruciais. Pensamento crítico, comunicação, inteligência emocional e gestão da pressão são diferenciais cada vez mais valorizados. Para quem está ou deseja estar em cargos de liderança, três desafios se destacam: resiliência diante de um ambiente corporativo mais duro; capacidade de adaptação cultural em organizações cada vez mais diversas entre si; e habilidade para liderar múltiplas gerações, muitas vezes à distância.
No centro das tensões, está o desalinhamento de expectativas entre empresas e profissionais , ambos acreditando entregar mais do que recebem em retorno. Para Oggiam, a solução passa por diálogo e transparência: “A clareza de expectativas é fundamental”. E deixa um recado para quem quer se destacar: assumir o próprio desenvolvimento é indispensável. “Profissionais que expandirem suas competências para além da execução mecânica terão mais oportunidades nos próximos anos”, conclui.
FONTE: Revista Veja