O futuro do agronegócio brasileiro
Aumento da produção agropecuária, aumento significativo da competitividade, digitalização e rejuvenescimento do campo, sustentabilidade socioambiental. São características do atual e, principalmente, do futuro momento do agronegócio no Brasil. O diagnóstico foi apresentado por quem está ligado ao campo há muito tempo: Paulo Renato Herrmann, engenheiro agrícola e presidente da John Deere Brasil. Dedicado ao agronegócio brasileiro desde que se formou, Herrmann falou na ExpoGestão 2021 sobre aquilo que mais entende e deixou um saldo positivo.
Primeiro, aos números. “Partimos da década de 70, de uma produtividade de uma tonelada por hectare. Em 2021, a previsão é de 252 mil toneladas por hectare; e, se não fosse a seca, seriam 275 mil.”
O agro cresceu 500% no período, uma média de 4% ao ano. Por outro lado, a área utilizada cresceu apenas 80%. A produção grãos passou de uma área de 37 mi hectares em 1977 para 69 mil hectares. Já a produção subiu de 37 milhões para 252 milhões de toneladas. “O agro brasileiro nos surpreende. Nos próximos dez anos, devemos crescer 8% a 10% ao ano, chegando a 480 ou 500 milhões de toneladas de grãos”, enumera Herrmann.
A pecuária, nestes 40 anos, foi de meia cabeça por hectare (79 milhões de cabeças) para 1,4 cabeça (214 milhões), com previsão de chegar a 2,4 cabeças (295 milhões) em 2031. Tudo isso com uma diminuição da área, de 155 mil hectares para 153 mil, podendo baixar para 123 mil em 2031.
O Brasil é líder na produção de suco de laranja, café, frango e soja. É prata na pecuária, algodão e milho. O executivo da John Deere compara: “Em linguagem de Fórmula 1, eu digo que estamos na volta de aquecimento de pneus. Isso assusta outros países, gerando críticas infundadas ao agro brasileiro”.
Mais alimentos
A FAO, braço da ONU voltado à agricultura e alimentação, prevê a necessidade adicional de produção de alimentos nos próximos anos, em virtude do crescimento da população, novos hábitos e aumento do poder aquisitivo. A Oceania vai exigir 9% a mais de produção alimentar; a China, mais 15%; Rússia, 7%; União Europeia, 12%; EUA, 10%; Canadá, 9%. Diz Herrmann: “A grande notícia que quero compartilhar é que o Brasil vai ser instado a produzir 41% a mais para atender à demanda”.
O agro brasileiro hoje, afirma o executivo, é feito em ciência e tecnologia. “Jeca Tatu ficou no passado, nosso agro é 4.0, com grande tecnologia. Usamos bem os recursos, preservando o ambiente. Saímos de uma gestão de talhão (unidade mínima de cultivo) para linha e, hoje, performance de planta. Cada planta tem um potencial genético, com capacidade de produção para ser exaurida. Precisamos dar nutrientes para cada planta, e não mais a linha, muito menos o talhão.”
Os fundamentos estão aí: “Primeiro trouxemos o GPS para o campo, para saber onde a máquina estava. Agora, identificamos onde está e o que ela está fazendo, graças à conectividade. Nos próximos três a cinco anos, o Brasil rural estará conectado, vai poder se comunicar com a máquina. Essas máquinas, trabalhando dia e noite no campo, geram dados, muitos dados. São, na verdade, equipamentos de aquisição de dados. Quando eu estudei, a definição de máquina agrícola era um conjunto mecanizado, desenhado para resolver uma função agrícola. Hoje essa definição continua, mas tem uma nova função: aquisição de dados. A partir desses dados, interpretados da maneira adequada, obtemos informação, com a qual aumentamos ainda mais a eficiência do nosso sistema de produção”.
GPS, conectividade e aquisição de dados são desafios pela frente, implicando em formar novos profissionais de agrocomputação e na necessidade de sistemas integrados. “Vamos – anuncia o executivo – para Inteligência Artificial, já presente em algumas máquinas hoje. A máquina deve começar a tomar decisões autônomas, fazer funções repetitivas, deixando ao operador o controle de funções mais importantes na cabine. Vamos ver aparecer mais e mais coisas chamadas visão computadorizada, câmeras e sensores fazendo leitura de obstáculos, de infestações de áreas, a partir daí alimentando os processadores e gerando decisões. Tudo coroado com machine learning, a máquina aprendendo a partir da repetição de determinadas operações. Quando eu me formei e fui ao mercado, dizia-se que a mecanização no Brasil estava trinta anos atrasada em relação aos países do primeiro mundo. Quarenta anos depois, com orgulho, andamos pari passu com os países avançados. Temos máquinas lançadas no Brasil antes até do que nos Estados Unidos. Não temos mais defasagem tecnológica.”
A despeito do sofrimento que a Covid trouxe, continua, “percebemos um rejuvenescimento do agro. Filhos voltaram das cidades e descobriram um agro tecnificado, que atraiu a atenção. Resultado: hoje o Brasil tem idade média do agricultor de 45 anos, contra 58 nos Estados Unidos e mais de 65 na Europa”. A sustentabilidade entrou na agenda: “A sociedade urbana exige produtos com qualidade, conhecendo a origem. O Brasil conserva 66% do território, faz agropecuária em 30% da área. A evolução não vai ser em cima do bioma, das áreas de preservação, vai ser em cima desses 30%. Dá para recuperar solos e pastagens sem derrubar nenhuma árvore”.
Paulo Herrmann encerrou a palestra homenageando o ex-ministro Alysson Paolinelli, candidato ao Nobel da Paz. “Ele contribuiu para a implementação da Embrapa e na transformação de agro de clima temperado para agro de clima tropical. É o pai da revolução.”