O chefe imediato é a maior fonte de suporte ou de medo, ou seja: da saúde mental de sua equipe. A frase resume a palestra “Gestão da pressão e da performance”, proferida na abertura da Expogestão pelo médico Roberto Aylmer, especializado em burnout executivo e gestão da pressão.
Três questões nortearam a palestra.
Como um contexto de incerteza prolongada desorganiza as capacidades mentais e impactam nossa vida?
“Gente forte também quebra!”, garante Aylmer, citando os exemplos da tenista japonesa Naomi Osaka e da ginasta norte-americana Simone Biles, que sucumbiram à pressão. “Nas grandes competições e nas grandes empresas, as pessoas estão se quebrando. E não tratar isso como um fator importante, digno de atenção, gera consequências talvez irreversíveis para a imagem organizacional”, alerta o palestrante.
Por que os riscos de acidentes estão maiores do que no ano passado?
A pesquisa Série SmartLab de Trabalho Decente é alarmante: gastos com doenças e acidentes do trabalho chegam a R$ 100 bilhões desde 2012. Segundo dados do Sistema Nacional de Informação de Agravos de Notificação, do Ministério da Saúde, o número de acidentes de trabalho graves notificados cresceu cerca de 40% em 2020. O estresse causado pela pandemia aumenta o índice de acidentes.
Roberto Aylmer vai além: “Em março de 2020 já estávamos no limite. Agora temos um sentimento de exaustão, de termos dado toda a força. A Covid afetou o sistema de saúde, o sistema logístico, a economia, o comércio, o emocional, o sistema educacional e a infraestrutura. O grande problema é a incerteza, o medo que não vai embora. Você deixa de ouvir os alarmes, por se habituar a eles”.
Durante a pandemia, o número de pessoas cuja saúde mental é afetada tende a ser maior que o número de pessoas afetadas pela infecção em si. Implicações para a saúde mental podem durar mais tempo e ter maior prevalência que a própria epidemia. “Os impactos psicossociais e econômicos podem ser incalculáveis se considerarmos sua ressonância em diferentes contextos”, prevê Aylmer.
Antes da pandemia, os números já eram assustadores: 16% dos suicídios eram relacionados ao trabalho e a problemas financeiros; oito em dez empregados não procuraram tratamento para sintomas relacionados à saúde mental, por medo e vergonha; 95% dos empregados que faltaram ao trabalho por causa de estresse disseram que foi por “outro motivo”, como dor de cabeça.
Por que o líder imediato é o principal fator conhecido, tanto para a recuperação quanto para o adoecimento das equipes?
Roberto Aylmer fez uma comparação com as guerras de trincheira.
– Sargento, eu não quero saber sobre a macroestratégia para vencer a guerra, só quero saber se você vai me levar inteiro até a próxima trincheira.
“Ou seja, vamos vencer cada vez um pouquinho mais, indo para a próxima trincheira e diminuindo a incerteza. Você, líder imediato, é a principal fonte de tristeza dos funcionários. Toda vez que a liderança aumenta a pressão e o medo, a equipe responde com o aumento do cinismo.”
Balança da percepção do estresse
A percepção do estresse se compara a uma balança de dois pratos, com pressão num deles e performance no outro. No lado da pressão pesam: carga de trabalho/demanda, capacidade de entrega, condições de trabalho, conflitos, chefia imediata/assédio. Já no suporte (com apoio dos setores de RH, Segurança e da liderança): confiança na organização, chance de sucesso, certeza de justiça e mérito, colaboração, chefia imediata/apoio.
“Em algumas empresas – ressalva o palestrante –, RH, Segurança e liderança saem do suporte e vão para o prato da pressão na balança. Ali, a resolução tem desafios como alta complexidade, alto custo e longo prazo. Já no suporte, temos média complexidade, baixo custo e curto prazo. O líder precisa se manter como suporte, mesmo nos contextos em que diz ‘não’. No contexto de alta incerteza, o líder precisa assumir seu papel no fortalecimento da saúde mental, segurança e performance do seu time.”
Aylmer faz um alerta: “A pressão psicológica e a saúde mental dos colaboradores – em especial os mais jovens – será a próxima onda de impactos nos riscos de acidentes graves e na agenda ESG (ambiente, social e governança)”.
E dá o caminho: “Não precisamos de mais ferramentas, precisamos de um patamar ético e moral mais elevado. ‘Eu me importo’, cooperação com flexibilidade. Não somos formigas ou abelhas, temos a capacidade de escolha, empatia e inteligência coletiva”.
As palestras da ExpoGestão 2021 acontecem de forma online. O evento acorre até o dia 21 de outubro, por meio do site. A organização é da Ópera Eventos Corporativos.