Programa deve acelerar o esforço de desenvolvimento e absorção tecnológica
O programa Nova Indústria Brasil, lançado pelo governo federal, é composto por ações que envolvem os setores público e privado para promover o desenvolvimento produtivo de forma estratégica. O Nova Indústria Brasil conta com R$ 300 bilhões para financiar as iniciativas até 2026, relacionadas à ampliação da autonomia, à transição ecológica e à modernização do parque industrial brasileiro. Entre os setores que receberão atenção estão agroindústria, saúde, infraestrutura urbana, tecnologia da informação, bioeconomia e defesa.
A ExpoGestão conversou com o economista-chefe da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Pablo Bittencourt, que analisou os principais pontos do programa.
Qual sua avaliação da Nova Indústria Brasil, o programa de política industrial do país, lançado pelo governo federal?
Pablo Bittencourt – Positiva de forma geral, especialmente pela intensão de otimizar recursos públicos e privados em torno desenvolvimento tecnológico, principal determinante da competitividade das empresas e dos países. Há, no entanto, pontos de atenção, tais como: a ausência de metas detalhadas sobre os programas e projetos; a capacidade de coordenação e monitoramento do MDIC e a pulverização de recursos.
Qual o principal impacto que o programa vai trazer para as indústrias catarinenses?
Pablo Bittencourt – O impacto pretendido pela política industrial é acelerar o esforço de desenvolvimento e absorção tecnológica pelas empresas industriais. Quando as empresas se engajam em esforços tecnológicos de forma agressiva criam um ativo para seu próprio futuro, ou seja, conhecimentos tecnológicos que ajudarão a sustentar suas competitividades. Há muito espaço para isso aqui em Santa Catarina.
Importante que os programas diretamente ligados à Política industrial são complementados por outros, também do MDIC, como o de Depreciação Acelerada de Bens de Capital, que promovem tanto a modernização do parque fabril brasileiro, como a demanda por máquinas e equipamentos produzidos em Santa Catarina.
Entre os setores que receberão atenção estão agroindústria, saúde, infraestrutura urbana, tecnologia da informação, bioeconomia e defesa.
Pablo Bittencourt – A Política Industrial substituiu o conceito de “setor” pelo de “Complexo Industrial”, com isso passou a incluir especialmente fornecedores à montante das cadeias de produção. Isso acaba incluindo possibilidades a diversos outros segmentos, como o de plásticos, por exemplo, voltado a embalagens com bio e nano tecnologia aplicada à indústria de alimentos. Diversos segmentos da indústria eletro-metal-mecânica são partes do complexo industrial da saúde, por exemplo.
Santa Catarina tem uma economia diversificada, quais as regiões ou setor da indústria serão mais beneficiados pelo Nova Indústria Brasil?
Pablo Bittencourt – A política está baseada em 6 missões ao desenvolvimento, que nada mais são do que grandes problemas nacionais ou internacionais a serem superados a partir de desenvolvimento tecnológico nacional. Há empresas catarinenses capazes de se beneficiar em todas as 6 missões. Mas, em especial na Missão 1 – Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar, nutricional e energética. Há muita competência nessa área em Santa Catarina – dada certa capacidade já acumulada na Agro indústria.
Além disso, muito provavelmente, grandes líderes nacionais em seus segmentos produtivos, já dotadas de esforço tecnológico consistente, como a WEG, a TUPY, a JBS e a ENGEVIX, terão elevada probabilidade de absorver recursos do BNDES à inovação. O forte enraizamento local dessas empresas gerará efeitos multiplicadores a todo ecossistema à elas associado.
Em quanto tempo acredita que veremos os resultados das ações previstas no programa?
Pablo Bittencourt – Política Industrial gera grandes resultados apenas no longo prazo, 10, 15, 20 anos. Aspectos como PIB potencial, da renda percapita, da qualidade dos empregos gerados na economia, entre outros, são significativamente impactos pela PI nesses prazos.
No entanto, diversos resultados de curto prazo poderão ser sinalizações importantes de que estamos rumando para alcançar àqueles resultados. A observância da realização de metas de exportação e esforço inovador pelas empresas, a capacidade de seleção das estratégias/projetos mais eficazes individualmente e promissoras socialmente também terá o papel de fornecer uma medida da eficácia da execução da política. Além disso, no curto prazo, espera-se que as empresas que aderirem comecem a empregar mais pessoal dedicado a atividades de inovação, como Pesquisa e Desenvolvimento de Produto, Design e Engenharia. Esses empregos pagam salários elevados, o que já é um benefício. À medida que gerarem os lucros esperados, deverão servir como exemplo a outras empresas.