
Viver sem tecnologia digital, atualmente, é impensável. Da comunicação básica via celular às mais avançadas soluções em inteligência artificial, tudo gira em torno do digital. O Brasil, hoje, é o segundo país do mundo no ranking do uso de celular. Essa dependência, porém, tem seu lado negativo, concretizado no aumento dos transtornos mentais. “Precisamos saber usufruir dos benefícios da tecnologia de forma saudável e equilibrada, prevenindo problemas de saúde mental”, alerta o psiquiatra e neurocientista Rodrigo Bressan, palestrante que abriu o congresso da Expogestão 2025, na tarde desta terça-feira (dia 11 de junho).
Pesquisador renomado, Bressan é presidente da ONG paulista Instituto Ame Sua Mente, que trabalha com redução de estigma e educação em saúde mental em escolas públicas. O instituto desenvolve projetos pautados em pesquisas científicas com foco na promoção da saúde mental, prevenção e manejo de transtornos, sendo o educador o principal ator social de suas intervenções. Também é cofundador da startup Mindcheck, que desenvolve novas tecnologias para checkup em saúde mental.
Do estresse ao transtorno
“O estresse – diz o palestrante – até certo ponto é benéfico, para nos manter atentos. Mas, sem controle, causa sofrimento leve, provocando sintomas como tristeza e ansiedade. Um nível acima, vêm os problemas mentais, com sofrimento moderado, trazendo insônia e outras complicações. O terceiro nível é o transtorno mental, com sofrimento grande, sintomas repetitivos e duração prolongada, levando à perda da capacidade de superação.” O transtorno mental, que significa alterações nos circuitos cerebrais, acentua Rodrigo Bressan, “é um dos maiores desafios contemporâneos”.
Alguns dados ilustram o tamanho do desafio: uma em cada cinco pessoas tem ou terá transtorno; uma em vinte desenvolverá incapacitação a longo prazo; 75% desenvolvem transtornos antes dos 24 anos; metade deles, antes dos 14. Os gráficos mostram que houve uma considerável redução em doenças, ao longo dos anos, mas o índice de suicídios não se alterou. Uma constatação: “Falta prevenção” – diz Bressan. E ilustra: em 80% dos casos envolvendo crianças e adolescentes, não há acompanhamento, principalmente devido a estigmas desenvolvidos pelos pais.
Além dessa falta de acompanhamento, há a questão cultural, a necessidade de se manter o tempo todo conectado. Bressan destaca alguns comportamentos que jogam contra a saúde mental: “Dependência de games, medo de não conseguir acompanhar atualizações, receio de ficar sem o celular, mania de selfies, ignorar companhias humanas, angústia ao não receber respostas, náusea digital, depressão das redes sociais e o prazer em se desconectar eventualmente. Tudo isso leva à sobrecarga mental e aos transtornos”.
Como evitar essa sobrecarga? “Nosso cérebro é moldável, precisamos fazê-lo jogar a nosso favor. Fazer checkups cerebrais, diminuir o tempo de tela, não se deixar condicionar pelas redes sociais, controlar rigidamente o acesso de crianças ao celular…” Atitudes óbvias, claro, mas que exigem disciplina, perseverança e esforço, combater estigmas e preconceitos. Por fim: “Usar a tecnologia digital a favor”.