Uma análise da moral e da importância da ética na nossa sociedade
O economista Eduardo Giannetti buscou na mitologia grega da fábula “O Anel de Giges” para explicar a importância da ética no controle dos códigos morais da sociedade e corporações.
No conto grego do filósofo Platão, no segundo livro de A República, um camponês encontrou um anel que lhe permite ficar invisível. Ele usa esse poder para transgredir os códigos morais da sociedade. O questionamento feito é se a pessoa que tiver o anel, também usaria essa invisibilidade para buscar a felicidade, passando por cima das regras morais ou não?
Na palestra “O anel de Giges: a diferença entre ser e parecer”, realizada nesta quinta-feira, na ExpoGestão 2021, Giannetti relatou as diferenças entre moral e ética.
Moral é originária da palavra latina “mores”, que significa costume. É o código do comportamento humano. Mostra o que é certo e errado, proibido e permitido. Ou seja, não há sociedade humana que não esteja balizada e estruturada num código de convivência compartilhado, que muda com o passar dos anos. Mas não há um código absoluto, porque varia conforme a sociedade.
Já a ética introduz um juízo reflexivo e busca princípios que justifiquem racionalmente o código moral. São juízos sobre se os códigos morais merecem ou não continuar existindo.
O economista cita que os códigos morais antigos, que vem dos nossos antepassados, deixaram de existir por causa da análise crítica sobre os mesmos, oportunizada pela ética. Até o final do século XIX era permitida a escravidão. Em meados do século passado a mulher não podia votar e as crianças eram repreensivas com violência nas escolas. A união entre pessoas do mesmo sexo era inaceitável.
“Foi preciso um enorme esforço da sociedade para quebrar esses códigos, graças a uma reflexão ética que a sociedade terminou com a escravidão, deu direito de voto às mulheres, proibiu a agressão das crianças e autorizou as relações homoafetivas”, refletiu
Giannetti fez uma provocação aos participantes do evento. Ele pediu que seja imaginado os nossos netos, bisnetos ou tataranetos analisando o nosso código moral de hoje. “O que será que iria chamar a atenção deles, que se tornaria inaceitável como prática?”, refletiu.
Autor de diversas obras, o economista disse que o grau que são determinantes à adesão das normas de convivência são divididos em três vetores.
O da submissão, que é o modo como os economistas tratam o respeito às leis, a partir do cálculo de custo e benefício. Como por exemplo pagar ou não o imposto devido.
O outro vetor é o da identificação. Esse diz respeito aos sentimentos morais, como vergonha, culpa, remorso ou arrependimento. Eles têm importante papel na prevenção nas nossas tentações de fazer coisa que a moral condena. É resultado de um aprendizado de convivência familiar, que mostra o que pode e o que não pode.
E o terceiro é o da internalização. Neste caso se trata do reconhecimento consciente da importância das normas de convivência para todos nós. Por exemplo, uma pessoa diante de uma regra de trânsito, mesmo ausente de uma fiscalização, cumpre o que a norma exige porque entende que este é o comportamento certo. Ou seja, essa pessoa percebe que é necessário esse cumprimento para a sociedade ter uma organização.
“Se nós não soubemos nos conter, mesmo que tenhamos a certeza da impunidade, a nossa convivência vai degringolar. Não teremos mais como confiar em ninguém. Qualquer negociação vai se tornar complicada para não ser passado para trás. E tudo isso leva a sociedade humana de forma precária do que ela pode alcançar em termo de bem-estar. Tudo isso se aplica ao mundo corporativo, porque uma organização não passa de uma microcomunidade buscando o objetivo comum. Nem tudo que é feito na organização merece aprovação da ética. É preciso estar permanentemente repensando as práticas, de forma crítica”, ensinou Giannetti.