Vencer a crise exige atitude
“Ainda estamos na epidemia. Depois virá a pós-epidemia. E finalmente o tal ‘novo normal’. Precisamos nos adequar agora, para que depois não voltemos ao ‘velho normal’. É como um aparelho nos dentes: ele fica até que os dentes adquiram uma nova memória; se tirar antes, os dentes voltam à posição anterior.” Assim Luciano “Luc” Pinheiro, diretor técnico do Sebrae-SC, traça um painel da crise pandêmica. Sua palestra “A cabeça do empreendedor e o enfrentamento das crises” foi apresentada no último dia da Expogestão 2020.
Luciano Pinheiro é bacharel em Administração de Empresas pela Unoesc, com especialização em consultoria empresarial pela FIA/USP, tem dois livros publicados e foi professor universitário. Empreende desde 1998, nas áreas de saúde, moda, consultoria e tecnologia. Investidor anjo e mentor de empreendedores, foi presidente da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis e atualmente, além de ser diretor técnico do Sebrae-SC, integra os Conselhos Deliberativos da ADVB/SC e do Instituto Euvaldo Lodi.
“Antes da pandemia – relembra Luc Pinheiro – os empreendedores se sentiam super-homens, com capa e tudo, prontos pra voar. Só que, na realidade, estávamos nos recuperando de uma crise econômica anterior. Quando a Covid-19 chegou, foi como um nocaute.” Aí, houve dois tipos de atitude: alguns imaginaram uma crise curta, esperando o “novo normal” rapidamente; outros se prepararam para um longo período de provações, dificuldades e necessidade de correções de rumo. Quem imaginou que seria rápido, ainda está em dificuldades.
Crédito caro e déficit
“Naquele momento – recapitula Pinheiro – as empresas catarinenses pequenas e médias, por exemplo, tinham capital de giro para não mais que 28 dias. O crédito estava caro. Santa Catarina teve um déficit de 4 bilhões de reais, e até agosto o crédito disponibilizado chegou à metade deste valor.”
Percebeu-se, então, que os empreendedores estavam tomando três atitudes: a maioria buscou proteger/recompor o caixa, procurando crédito; um grupo menor procurou proteger a sanidade da equipe; e um menor ainda reconheceu que estava em campo desconhecido.
No primeiro caso, percebeu-se uma mudança de cultura, priorizando a atividade-fim, reduzindo custos com tomadas de decisões rápidas e tentando aumento das receitas (mesmo que isso significasse subir preços).
A proteção da equipe, por sua vez, implicou em aproximar o time, abrir canais de comunicação direta, não deixar ninguém sem resposta ou desamparado.
E, para reconhecer o novo cenário, as empresas de todos os portes partiram para a criação de comitês de crise (diferentes das rotineiras reuniões gerenciais) e de conselhos de administração, diretos ou consultivos, com reuniões mais frequentes do que as assembleias normais.
Luc Pinheiro deixou algumas dicas para quem está se preparando para o pós-pandemia – e sabe que a crise ainda não terminou. “Separe som de ruído, não se deixe levar por falsa informação. Abandone ferramentas que não servem mais. Quando o novo normal enfim chegar, cuide para não retomar velhos hábitos.”
Encerrando, uma frase do filósofo Erasmo, para pensar: “Confiante, tudo perdi. Audacioso, tudo guardei”.