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Como gerenciar estresse com isolamento da Covid-19?

 

Neurologista Fabiano Moulin diz que as pessoas, avessas a mudanças não esperadas, precisam estabelecer rotinas e cuidar da saúde mental neste período

O mundo vai se dividir entre o antes e o depois do Coronavírus, acredita o médico Fabiano Moulin, especialista em neurologia cognitiva e do comportamento, ao abordar o impacto do isolamento que acomete a maior parte das pessoas no Brasil e no mundo.

Segundo ele, todos nós vamos sofrer, ter ansiedade e medo; mas é preciso legitimar essas emoções e não se contentar com isso.

“Estudos sobre o passado mostram que um grande adoecimento mental vem depois das epidemias.  Por isso temos que nos cuidar”, destaca o neurologista, que sugere a criação de uma nova rotina, de preferência registrada por escrito, estabelecendo quais são as atividades para cada intervalo de duas ou três horas. Acordar e vestir-se, seguir o planejado e não se distrair com o celular. “A rotina estruturada nos devolve o senso de controle e maestria, duas coisas com as quais nosso cérebro está acostumado”, destaca.

A rotina em tempos de Coronavírus deve passar pela criatividade, com um novo olhar para o dia a dia, para as possibilidades da convivência familiar e para o ambiente rico que podemos ter em casa. É preciso também maneirar a dose diária de informações a respeito da doença, pois isso aumenta a ansiedade e traz insegurança e imprevisibilidade. “Temos que prestar mais atenção na nossa atenção e não manter a cabeça nas perdas que todos tivemos”, recomenda Moulin.

O momento também é propício para a mudança de hábitos, seja adotar alguns para os quais não se teve tempo até então –  como meditar, aprender alguma coisa, fazer um exercício físico – ou para abandonar hábitos antigos que nos prejudicam.

Nosso cérebro é inclinado a uma percepção mais negativa da realidade, mas podemos nos preparar para ver as coisas com um olhar diferente.

“Quando sentirmos muita irritação por não poder fazer algo que se fazia, podemos substituir este sentimento por gratidão pela oportunidade que teremos no futuro de retomar as atividades que nos dão prazer”, explica Moulin.

Ele lembra, também, que o distanciamento físico não representa um isolamento social e que as ferramentas digitais podem nos ajudar na interação com a família e com os amigos, porque ninguém se basta sozinho.

“Duas características importantes que o mundo do trabalho nos proporciona são o pertencimento e o propósito. É preciso ressignificá-los”, diz Moulin. E isso acontece quando optamos por hobbies que nos proporcionam estas duas coisas que o trabalho nos traz.

O neurologista destaca que o cérebro tem três maneiras de lidar com a imprevisibilidade. A primeira é negá-la; a segunda, transformá-la em rotina; e a terceira (e mais saudável) compreender que o inesperado pode se tornar fonte de crescimento.

Segundo Moulin, precisamos ser antifrágeis, como no conceito criado pelo ensaísta e pesquisador Nassin Taleb, autor de ‘A lógica do Cisne Negro’. “Aquilo que não tolera o stress é frágil, aquilo que tolera o stress é robusto e aquilo que se desenvolve e cresce com o stress é antifrágil”, resume.

Crédito imagem: Freepik